COMO SE FOSSE UM CÃO

[CAMPISTA CABRAL]

   Roça cada pedaço da folha como um cão que cheira o mundo. Roça cada centímetro da folha. Roça e os dedos que tocam são leves, mas precisos. São dedos de quem escreve.
   Roça cada pedaço de chão, como se fosse chão. Roça como um cão à procura das coisas. Como um cão.
   Como se fosse chão.
   E não.
   E não importam o tempo e a vida. E não importam as horas...
   Roça como se não houvesse tempo.
   Roça cada pedaço da folha e cheira o papel como se fosse um cão.
   Como se fosse o chão.
   Roça cada centímetro até que... escreve...
   E no escrever das coisas o toque das mãos aperta, acaricia, amassa, alisa, apaga...
   No escrever das coisas o mistério todo.
   Roça cada pedaço de chão, como se fosse um cão...
   A palavra.

[Goreti Dias]

Roça e escreve... e como escreve bem!
Abraço

[CAMPISTA CABRAL]

Olá Goreti!

Obrigado mais uma vez! Obrigado por ler os meus textos e, também, por comentá-los!

Um grande abraço!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Roça e raspa e lima e rala. A poesia aparece toda prosa. Os contos surgem cheios de poesia.

Grande abraço...
 

[CAMPISTA CABRAL]

É interessante forçar esta fronteira invisível entre prosa e poesia. Guimarães Rosa o fez brilhantemente. Mia Couto, agora, o faz vda mesma forma! E outros mais. Houve um tempo em que poesia e prosa não se davam, não se olhavam, sequer pensavam uma na outra. Mas. Houve um ruído. Houve um susto e um corte - a modernidade. Ambas se olharam, ambas se enamoraram e aí você sabe onde isso foi parar...

Um grande abraço amigo!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Realmente as fronteiras estão cada vez mais estreitas. Será que houve uma conurbação? [risos]

Abraços amigos para ti também.

[CAMPISTA CABRAL]

E como classificar os textos de hoje pelos parâmetros clássicos? Há muito isso mudou! E continua a mudar...

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Eis a dinâmica das palavras impressas ou não.

[CAMPISTA CABRAL]

E estamos a viver novos tempos (não é um trocadilho)!!! Mas muitas coisas mudam e continuam por mudar!!!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Quase instantaneamente!
Os tempos mudaram mesmo. Estou no curso teclando ao Escritartes. [risos]

[CAMPISTA CABRAL]

Este espaço é uma grande oficina de letras! Um espaço maravilhoso em que se pensa e se escreve!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

É inacreditável como é fácil falar de literatura forma tão agradável e ao mesmo tempo tão série.

[Dionísio Dinis]

Na forma e no conteúdo, um texto simplesmente brilhante.Os meus sinceros aplausos.

[amandu]

É bom rir e lembrar de todas essas figuras cheias de significado do Mundo que recordei ao te ler. Nossas e de todos embora não seja assim a escrita.
Abraço.
Amandu

[CAMPISTA CABRAL]

Dionísio e Amandu:

Obrigado pela leitura! A escrita para mim é um trabalho, um ofício, mas também, um mistério, um enigma! Uns buscam mais a contenção, a racionalidade; outros escrevem como se as palavras fossem a ponta do coração. Acredito que a junção dessas duas formas é o ideal.

Um grande abraço!