A Onça

[goncalos]

Batuques na floresta. O sol, tímido, surge entre as núvens e penetra em fios de ouro, filtrado pela ampla folhagem de árvores de sabedoria milenar, tornando tudo mais claro e brilhante. Sento-me num tronco recentemente derrubado e escuto os batuques. Lá ao fundo está a minha tribo, celebrando as núvens escuras que se aproximam. Mais umas horas e virá a chuva terrível em fortes aguaceiros. Tenho uma hora de caminhada até à minha tribo. Nada disto seria complicado, não fosse eu saber que ela está a espiar-me neste preciso momento. Sim, eu sei que ela me olha e sabe que estou cansado de fugir-lhe. A onça, bela e misteriosa quer vingança. Está louca com a morte dos seus filhotes às mãos de mais uns desses ridículos caçadores de troféus que entram pela floresta dentro sem respeito por ela e pelos que nela habitam. Mas ela mostrou-lhes. Ah se mostrou! Estripou-os um a um saciando a sua vingança e a sua loucura num acto frio e calculado. Ela só não sabe que eu nada tenho a ver com isso. Apenas servi de guia a esses miseráveis turistas, sim, servi-lhes de guia para as suas mortes, sem imaginar que também podia estar a traçar o meu próprio destino. Tudo em troca de algum dinheiro para poder ir conhecer a cidade. Agora ela persegue-me como um gato que brinca com um rato ferido de morte.

[João Videira Santos]

Pois é...
Escrever, todos escrevemos só que alguns...ESCREVEM!
Gonçalo: Aquele abraço.
Na pessoa e na...in-te-li-gên-ci-a!

[Goreti Dias]

Ficou o cheiro... não importou o quanto...
Um bom texto! Parabéns!
Bjs

[britoribeiro]

O indígena que a troço de parcas moedas vende o seu mundo, o turista estupido e ignorante que tudo compra... Tudo, não. O amor à prole não tem preço!

Abraço

[João Videira Santos]

Com o Gonçalos temos o recorte e a imaginação de quem trata esta arte com profunda intimidade.
Um abraço

[Dionísio Dinis]

Sem qualquer equívoco, um texto com magia e mensagem a reter!Prosa, e da boa!Muito bem!