Nação Valente
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outono
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« em: Janeiro 10, 2019, 18:51:52 » |
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Há dias que são muito estranhos. Quando vagueava na procura de informação recente, esbarrei numa notÃcia que dizia que um escritor chamado Ivann Moix, que desconheço, afirmou que as mulheres com mais de cinquenta anos são velhas para serem amadas. Não comungo dessa posição e nem a percebo. Acho disparatada a ostracização de mulheres em função da idade, mas por outro lado, fico feliz, por o dito senhor não incluir os homens nesse pacote. E eu que já passei os cinquenta à tanto tempo que nem me lembro de lá ter estado, penso uff do que me livrei. Além disso, tenho menos um concorrente de peso no “desfrute2 das cinquentonas e continuadoras que merecem ser amadas, e sabem muito bem amar. Se calhar o fulano foi descartado por alguma. Por outro lado, não percebi bem o porquê de fixar essa barreira nos cinquenta. Então e se tiver quarenta e nove ainda não é velha? Que raio se passa de um ano para o outro para chegar a velhice?
Mas depois de uma notÃcia que me deixa de boca aberta pela sua absurdidade, sou protagonista de um acontecimento que me deixou babado. Aconteceu quando o meu telefone tocou e tive uma enorme surpresa. Antes de atender ainda pensei que era um desses telefonemas em que nos querem vender qualquer coisa, convidando-nos. por exemplo, para irmos a uma consulta gratuita, numa qualquer instituição, para fazer um check-up de saúde. O telefonema começa sempre por um interrogatório, onde me fazem perguntas de Ãndole indiscreta. Aà penso se aplico a faceta de cidadão educado ou se solto o buldózer que há em nós. Acabo por ficar na posição intermédia e lá vou descartando a criatura que está fazer pela vida, e esta é dura.
Levantei o auscultador e do outro lado, uma voz que me pareceu familiar, perguntou se estava a falar com a pessoa, que tem precisamente o meu nome. Respondi, algo desconfiado: -Sim, é por esse nome que me tratam. -Daqui fala o Marcelo, disse a voz - Que Marcelo? Perguntei, não me lembrando conhecer nenhum Marcelo. -Então não conhece a voz? O Marcelo, Presidente da República. Não acredito, e a primeira ideia que me veio à cabeça foi, “quem será o brincalhão?†e sem mais rodeios disse “ó pá vai-te mas é catar, não tenho paciência para brincadeiras no dia em que o meu clube perdeu com o Tondela. Diz lá quem és?†-Silencio do outro lado.
Aproveitando o silêncio dei voltas à cachimónia para ver se me lembrava de alguém com vontade de brincar, num dia de Janeiro frio para caramba, e em que as Bolsas anunciam borrasca. Mas embatuquei e fiquei com a mente congelada.
-Compreendo a dúvida, mas não é nenhuma brincadeira, sou mesmo o Presidente, e estou a telefonar-lhe para o felicitar enquanto co-autor do romance o “Esfaqueador da Régua†que acabei de ler, depois de roubar umas horas ao sono, mas que achei um “mustâ€. -Vamos assumir que é o senhor Presidente Marcelo (a voz começou a parecer-me credÃvel) então porque razão felicita um obscuro autor de um romance colectivo, que não conheço como uma “besta célereâ€? -Sabe que o Presidente tem olhos e ouvidos em todo o lado, e foi um colaborador que me enviou o romance como obra inovadora e logo me interessou. Para mais o tÃtulo interessou-me, porque também fui esfaqueado, e ainda mais por esfaqueadores encartados e autorizados para o fazer. Além disso, porque não havia de telefonar para quem retrata tão bem o tipo portuga (risos) -Muito bem senhor Presidente, mas porque me escolheu e não ligou para qualquer um dos outros autores? Podem ficar aborrecidos. -Ora, é simples. Tinha mesmo de decidir e veio-me à mente o ditado “os últimos serão os primeiros†e estando o seu nome no fim foi fácil. Não precisei de fazer uma escolha por sorteio, que Presidente tem muito que fazer. Mas as minhas felicitações são extensivas a todos os outros, e a quem teve a lucidez de o publicar. Se não é fácil escrever a uma mão, calculo o que não deverá ter sido a várias. Mais uma vez os meus parabéns com desejos que continuem com essa criatividade. Talvez ainda os possa receber um dia, quiçá condecorá-los. Agora despeço-me. Vou ligar para o programa da Cristina Ferreira, que também muito admiro. Afinal sou um presidente do povo. Não tive tempo de agradecer, acordei com o estupor do telefone num grande berreiro. E ainda eram apenas dez da manhã. Levantei o auscultador: -Está? Nenhuma resposta. O raio da chamada caiu. Não sei quem era. Voltei-me para o lado, que o dia ainda era uma criança, e continuei o meu sono. Ficou-me uma dúvida: o que relatei será sonho ou realidade?
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