Antonio
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« em: Agosto 11, 2008, 12:28:18 » |
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Era adolescente quando ouvi contar algumas histórias d’ Os Reiseiros da Maia. Mas quem são eles, os Reiseiros? Ou melhor, quem eram? Confesso que não sei exactamente, mas que existiram é um facto comprovado em documentação existente e fidedigna, mas não muito vasta. Parecem ter sido um ou mais grupos que representavam peças de teatro, fundamentalmente ligadas aos Reis Magos (daà o nome) e outros temas religiosos e também alguns autos vicentinos. Não sei quando começaram mas parece terem acabado a meio do século XX.
No entanto, não é sobre os verdadeiros Reiseiros da Maia que quero aqui escrever, mas antes acerca daqueloutros que fazem parte das minhas memórias da juventude. Aquilo que me contaram (e que parece ter só um fundo de verdade) referia-se a um grupo teatral constituÃdo por gente boçal, que actuava pelas vastas Terras da Maia e mesmo fora delas. Essas representações eram servidas por actores, encenadores e técnicos totalmente amadores, o que levava a que, mesmo em momentos de grande dramatismo, cometessem falhas que acabavam por deixar o público a rir à gargalhada.
Uma dessas situações humorÃsticas ocorreu durante a representação de uma peça em que um tipo representando Cristo era elevado aos céus pendurado numas cordas que eram puxadas por meio de um guincho ou cabrestante manual. Mas o sistema encravou e o actor ficou a meio do caminho olhando para baixo e para cima à espera de ser totalmente içado para sair de cena. Mas a avaria (ou a incompetência) era grande demais e, em certo momento, Jesus Cristo, o filho de Deus, olhou para o alto e bradou: - Então esta merda sobe ou não sobe?
Uma outra aconteceu quando a protagonista, aproveitando a ausência do marido, introduziu o amante nos seus aposentos. Todavia o cornudo, representado por um tal Mota, apareceu mais cedo do que os infames esperavam e encontrou-os no seu quarto. Imediatamente sacou da sua pistola para matar o vilão. Mas o pequeno explosivo que devia provocar o ruÃdo de um tiro não soou. O homem largou a pistola e procurou lavar a honra usando a espada. Todavia, talvez porque estava ferrugenta, não conseguia retirá-la da bainha. E perante o gáudio de todos, um espectador gritou: - Ó Mota! Dá-lhe com a bota! O actor parou, olhou para o público e disse: - Boa ideia! E depois de descalçar uma botifarra começou a bater com ela no outro desgraçado que teve de fugir correndo antes que ficasse com a cabeça rachada.
Também se contava esta peripécia, de novo passada no quarto de um nobre casal onde a dama, sozinha, lia uma carta escrita por um apaixonado admirador. Se tudo corresse normalmente, ela ouviria os passos do marido e queimaria a carta usando uma vela acesa que constituÃa um dos adereços. Entretanto o marido entraria, mostrava estranhar o cheiro do aposento e diria: - Cheira-me a papel queimado! E a representação continuava… Mas, uma bela noite, a actriz que fazia o papel de esposa não viu a vela, nem acesa nem apagada, e para remediar a situação resolveu rasgar a missiva. O actor que desempenhava o esposo entrou, fez os mesmos trejeitos de quem achou estranho o odor, mas dessa vez falou: - Cheira-me a papel rasgado!
E não me lembro de mais nenhuma das famosas cenas falhadas dos Reiseiros que me deram a conhecer. Certamente diferentes do que foram na realidade, mas suficientemente engraçadas para eu aqui as relembrar.
(escrito em 10 de Agosto de 2008)
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