desenha-me um espaço

[Mel de Carvalho]

desenha-me um espaço
sem espaço delimitado
por um traço leve e ao mesmo tempo
forte baluarte
tsunami violento
tempestade d'areia na aridez dum deserto

desenha-me em verso
no inverso de ti
imenso

crispa teus dedos
na minha carne, na minha pele

recorta lentamente a distância
que vai da noite à lua
ali
que a vejo audaz
em constante movimento

corta
retalha
na minúcia cirúrgica dum bisturi
cada pedaço de mim,
cada partícula atómica
desta matéria estranha de que sou feita
angelical ou, quicá, feiticeira, maga...

decepa minh’alma
sem pressa
sem medo
num segredo
nosso

descobre de mim o que ‘inda não sei
o que não ousei
o que pressinto
exista
no para além
de um não
no para aquém de um sim
na oblação de um querer ser
círio d’amor
nereida
ou tão-só ... mulher.

delineia-me (e)terno
      gesto a gesto
desfolha-me em trepidação puída,
desnuda-me à pele de tua boca
de saliva já embriagada
     despudorada
          semi-deusa em templo
brochura soçobrada
em ti,
Biblioteca d’Alexandria, genética, botânica,
herbário de pétalas tenras, camada a camada,
folhas decalcadas em forma de grainhas e nervuras
teias finas (tão finas...)
ao compasso de um relógio
pendular
sem horas ...

desenha-me um espaço na concha oculta do teu abraço.

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[Lucibei]

Apesar de ser avessa as poemas longos, gostei!
Tem amarca da qualidade a que já nos habituaste.
Beijo

[Mel de Carvalho]

Apesar de ser avessa as poemas longos, gostei!
Tem amarca da qualidade a que já nos habituaste.
Beijo

Minha amiga, quando começo a escrever jamais sei o tamanho de um texto. Nem sequer se será poesia ou prosa poética... se o deixo em "fatias" ou alinho em fios seguidos. Acredita que adoraria ser sucinta, mas esse atributo... não tenho!

Agradeço-te muito as leituras que dos meus textos fazes.
Abraço
Mel

[Goreti Dias]

"no para além
de um não
no para aquém de um sim"
Um mundo a descobrir ... na pele de uma mulher...
Bjs