Escrever no vento

[Nação Valente]

Palavras, palavras, palavras. De muitas palavras se faz a blogosfera. Palavras de elites da escrita. Palavras de milhares de cidadãos anónimos. O ciberespaço liberalizou a palavra, "igualitarizou" as ideias. Aqui todos podem exprimir-se, todos podem colocar opiniões, todos podem publicar textos mais ou menos literários. É o comunismo da escrita. O acesso da plebe à expressão do pensamento em letra de forma.
A escrita dos blogues e nos sites não passa porem de uma imitação de democracia literária. A literatura que permite retorno imediato  e que ficará para memória futura continua a residir na velha galáxia de Gutemberg. E esta continua a funcionar no ciclo fechado de uma elite de nobre. Escrever no ciberespaço é como escrever no vento. É uma escrita efémera que uma brisa contínua vai arrastando do horizonte visível. É uma espécie de estrela cadente que pode brilhar intensamente por uns instantes mas depressa se transforma num obscuro buraco negro.
O ciberescritor publica assim as crónicas que nunca escreveria, tira das gavetas da memória os contos que ali estavam condenados a uma inexistência eterna, reflecte o que não seria reflectido, exprime emoções, intimidades ,nas imagens paridas em textos poéticos. Inspiração, transpiração de vogais, consoantes, artigos, adjectivos, verbos, conjunções que não sairiam da gramática. Palavras, frases, períodos, parágrafos, texto, que não sairiam do dicionário. Pontos, exclamações, interrogações sem utilidade. Quase trabalho de Sísifo num constante vaivém para uma breve visibilidade. Vale a pena?
O ciberescritor sai da penumbra do anonimato a que estava destinado. Ganha fiéis ou ocasionais leitores. Partilha a sua criatividade com os seus pares que reconhece e por quem é reconhecido. À margem ou no cerne labuta entra em pequenas redes de afectos. Já não é um número indefinido das estatísticas populacionais. É um entre mil ou mais que escreve sabendo que alguém vai ler. Pequena ou grande e única compensação? Quem pode dizer! Quem pode saber se o vento na sua galopada imprevisível não é dotado de memória? Quem sabe?
MG

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

A Internet acabou por democratizar a escrita. Isso é fantástico. Estamos num turbilhão de escrita. Afogados nas letras. Boas e ruins. Lemos muito ou pouco, mas lemos e escrevemos. A despeito disso tudo a boa literatura continua e continuará sempre. Posso dizer porque sou um cara de sorte. Leio da minha casa excelentes textos. Os ruins eu não lembro.
Agora não esquecerei de como "Escrever no vento".

Grande abraço para Nação Valente.

[Goreti Dias]

Eu sei que tem memória. Mais do que aquela que nos convém, algumas vezes. Há quem se sinta incomodado por ter escrito alguma coisa em sites e peça para "apagar". Esquecem-se que fica em "cache". Portanto, a escrita como se faz aqui permanece no tempo e é mais fácil encontrá-la do que numa biblioteca. Àparte o nosso amor aos livros!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Eu gosto de ler. Quando canso da luminosidade da tela, imprimo ou leio aos poucos. Os livros me fascinam também desde sempre. Não importa o suporte. O importante é ler e escrever sempre.

[CAMPISTA CABRAL]

Olá Nação Valente,

Li já vários textos teus e gosto da forma como escreves. Realmente o espaço da internet é a grande revolução de todos os tempos. Os jovens entendem o relacionamento humano de outra maneira, o mundo negocia de outra maneira, os amantes se amam como antes e como nunca e também de outra maneira. Escrever aqui é, de fato, tirar dos guardados coisas que talvez nunca sairiam de lá. Entretanto, penso que o que importa é a palavra. Cantada, em livro, na tela, na memória ou em qualquer outro lugar, a palavra é, está e será sempre o nosso instrumento maior de sermos nós mesmos e o outro. Não, o livro não acabará. Sim, os espaços são novos e outros e amplos. Não, a magia do texto prevalecerá. Sim, outros formatos existirão e propagarão ideias e revoluções. Gosto de escrever no vento porque, dependendo do vento, as palavras se espalham como sorriso, como praga ou como beijo. Escrevo no vento.

Abraços fraternos!

[helenacosta]

   Nação Valente,

 
  Nesta casa, onde o calor humano permanece, aprende-se muito! Até "Escrever no Vento". 
 
  Abraço

[Nação Valente]

Oswaldo, Goreti, Campista, Helena

Muito obrigado pelas preciosas "achegas" que deram a esta reflexão. Cada um, à sua maneira, contribuiu para minorar a minha angústia de escritor no vento.
Abraço

PS Aproveito para fazer algumas correcções: onde de lê , elite de nobre deve ler-se elite nobre; onde se lê no cerne labuta deve ler-se no cerne da labuta.

[Nanda]

Nação,
Talvez o vento tenha a capacidade de fazer a triagem dos textos e poemas que se imporão para a posteridade, tal como é o caso desta prosa fantástica.
Beijo
Nanda   

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

É isso mesmo, Nanda!

[Nação Valente]

Nanda, Oswaldo
Obrigado pelo reconhecimento.

[Dionísio Dinis]

Assertiva reflexão, urdida com palavras que no vento deixarão fertéis sementes.Algo de bom acontece na escrita virtual, algo de perene é mais forte que o vento.
Grato pela partilha.

[Nação Valente]

Obrigado, Dionísio, pelas simpáticas palavras.
Abraço

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Releitura...

[Nação Valente]

Aproveitando uma releitura do compatriota Oswaldo, sim porque a nossa pátria é a língua portuguesa, reponho este texto, um dos mais lidos e apreciados que aqui escrevi. E porque, sinal dos tempos, escasseia inspiração, trago-o à luz da ribalta, comprovando que afinal o vento também ter memória, como li nas avisadas palavras de Goreti.

Boas férias