Tere Tavares
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« em: Julho 29, 2014, 23:46:16 » |
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Verted’ouro
Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, em maldições e preces, Como se a arder no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. (Olavo Bilac)
O sol continua a sumir por entre as pedras, com seus raios quase entristecidos. As ondas se esparramam como anjos incansáveis. A mulher com nome de flor ou de santa tinha a voz intensa, breve, e, principalmente risonha. Assemelhava-se a uma evolução musical de suave atmosfera. Não bastasse o canto, tinha o encantamento, o pleno exercÃcio do querer, aceitando o que não fora possÃvel mudar. Pensava com o sentimento.
Seria um estado de beatitude elaborada para o inestimável memorial das criaturas iluminadas. Descrevia o que sentia enquanto a outra forma de si mesma escrevia o que pensava. Quando tudo cessava era o mirar do seu pensamento sem olhos, nunca o seu sentir sem palavras. “Fui melhor quando não fui euâ€. Constatou ainda com dúvidas que o único meio de obter uma noção, mesmo que mÃnima sobre o bem e o mal, é conhecer as lágrimas com a compaixão de quem é capaz de sentir pelo outro o sofrimento e a alegria.
Sua pretensa ingenuidade entrou instantaneamente noutro par de olhos fixos na escuridão. Gostaria de dizer que não mudara em quase nada e que estava até mais bonita, mais feliz. “Os recados, à s vezes, passam sem ruÃdo, nem sempre cegosâ€, murmurou imaginando que viria do infinito algum elfo para esvaecer a sua hesitante decisão.
Não conteve o impulso de retornar e preencher com delicadeza o que carregaria para sempre no seu importante jardim sem importância.
Ainda que não soubesse, a engenharia das minudências soava como um lÃmpido cristal, permitindo um quase perfeito retrato, à distância, do lugar onde estava. As mudanças invisÃveis, enganadas, aparentemente imóveis. Conduzia palavras como se fossem água e sol, universos autônomos refrescados livremente nas transparências.
Tentava dissuadir o berço de estrelas longÃnquas – ninguém é capaz de tecer melhor sobre o acaso do que a fugaz eternidade que lhe conferiam, a cada vez que, ingenuamente, as imaginava caladas.
“Com que amor me vive essa porção que me escapa. Sempre soube que a escreveria e seria com a alma que não domino.†Murmurou no passo que dava em direção de si mesma, como se aninhasse um segredo revelador. Na dupla face que a tudo contorna, mesmo veladamente, havia um zelo imprescindÃvel. Os deuses possuem a mesma e inauferÃvel dimensão que passa invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre. “Permaneço no outro como sendo o meu árido exterior re-fletido numa solução inevitável. Com a beleza párvoa de não estar em mim.â€
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