há um cansaço a morder-me a pele do beijo

[Mel de Carvalho]

há um cansaço a morder-me a pele do beijo
um solstício madraço de desejo
um sol a escoar-se em míngua e fogo-fátuo
num azul que não existe já no lago

persiste o gelo, o espelho baço…
o gesto reflectido no vazio

em vacuidade esvoaça intrépido cisne. 
estreita dulcíssimo, do ar, o frio,

...um cisne negro
um toque de sinete
um lacre 
uma missiva que remeto ao horizonte
boomerang, seja,
da pedra o pó que s’agulha ao pólo norte.

hoje dedilho operâncias de bethowen
pautas agrilhoadas em degredo …

se lanço ancora no deserto
se me despisto
     bago a bago
          grão de areia
e logo morro
em virginal candura de ensejo

porquanto
existe um cansaço a morder-me a pele do beijo.

[Sandra Fonseca]

Mel,
Quanta beleza há em teu poema! Prá ser lido de um único fôlego.
Lindo, lindo!
Beijo.

[Goreti Dias]

"pautas agrilhoadas em degredo …" Liberte-se ao menos a pele!
Bj

[Alice Duarte]

Como sempre, a beleza da escrita a dizer de sentimentos e emoções. Lê-se e saboreia-se.

Beijinho, Mel

[Mel de Carvalho]

Sandra, Conceição, Goreti, Alice, gratíssima pelo incentivo de vossas palavras.

Bjs
Mel

[Mel de Carvalho]

Júlio, nunca foi tão verdade este cansaço. não consigo sequer escrever há dias.

em certos momentos julgo que de mim todas as palavras se ausentaram, se não para sempre, por certo por uma temporada.

abraço grata
Mel

[Orlando Monteiro]

Muito muito bonito não cansa nada ler, muito profundo
Obrigado por partilhar

Abraço

Orlando

[Luis F]

Mais um belo momento made in Mel

Feliz Natal

Luis

[Mel de Carvalho]

Orlando, Dite, Luis F,

…há mesmo, um cansaço perene. deve ser "fibromialgia"


Um excelente 2009 a cada um. Gratíssima, Mel.