“O arrefecimento da terra virá com a chuva que apagará o fogo das lanças dos cavaleiros do céu. Nesse tempo, a força das mãos fará renascer das veias a razão da existência, mas quando? Os homens estão quase resignados e definham ao gosto do diabo. Fugir para onde? Os caminhos para a luz estão armadilhados, o pobre ser humano gira à volta de si mesmo no interior da armadilha tecida pelos seus semelhantes. Resta apenas um caminho: assinar o divórcio com a vida e transformar-se em poeira que o vento fará levantar, até ao farfalhar edénico das palmeirasâ€.
Num paÃs assolado pela guerra e pela seca, a necessidade extrema empurra um grupo de aldeões para uma busca desesperada e inglória por melhores paragens. Inglória porque a desgraça de que fogem os persegue implacavelmente, ou mesmo os precede no seu caminho, semeando a fome, a doença, a violência e a morte. Os 4 cavaleiros do apocalipse desceram à terra e semeiam a destruição por todo o lado, deixando pouca margem para a esperança. Apesar disso, a natureza humana consegue fazer a sua aparição e ainda há espaço para o amor abenegado e para a solidariedade, mas também para a maldade, a inveja e a raiva. É neste cenário que as personagens se movem em busca de um inatingÃvel ideal - a Paz, sobre a qual consigam reconstruir as suas vidas arruinadas.
É assim que o segundo romance de Paulina Chiziane, Ventos do Apocalipse, nos transporta à dura realidade da guerra civil moçambicana. A autora, que durante a guerra trabalhou na Cruz Vermelha, testemunhou os seus horrores e transpô-los para este livro magnÃfico mas perturbador, onde a perspectiva feminina está sempre presente: “os estereótipos colados à imagem da mulher funcionaram muito bem nesta guerra, na qual participaram de uma forma muito cruel. E ninguém deu por isso. Quando eu digo que as mulheres são invisÃveis, são-no em todos os aspectos. Neste livro, descrevo essa parte horrÃvel da guerra, mas não descrevi tudo. Há coisas que jamais terei coragem para escreverâ€. (
http://www.ccpm.pt/paulina.htm)
Recomenda-se.