LÊ-ME

[JC DARK]

Lê-me, como velha relíquia de antepassado ancorado...
Lê-me em qualquer sorriso desmedido...
Lê-me em livro de alfarrobeiro escondido...
Lê-me num caminho inóspito e desleixado ...
Lê-me em tua esquerda palma,
em linhas que me guiam até ti...
Lê-me no tempo em que te entendi...
*
Lê-me em meus secos lábios, em sua fina linha...
Lê-me nessa alma que eu sussurrei ser minha...
Lê-me mesmo sem querer...
Lê-me no vazio da Lua Cheia a crescer...
Lê-me na primeira gota de suor em teu verão,
em tua face a escorrer...
*
Lê-me na pena que te contorce teu perturbado braço...
Lê-me em cada vidro por mim, em fúria, estilhaçado...
Lê-me em teu desgovernado embaraço...
Lê-me no canto da desatenta cotovia...
Lê-me no epílogo dum exilado dia...
*
Lê-me em tua cegueira...
Lê-me em minha surdez...
Lê-me em tua mais exuberante asneira...
Esvai teu coração até à ponta dos dedos,
e sente a minha tez...
*
Contempla num instante,
numa poça de chuva,
no sexto dedo duma luva...
num encarnado charco de palavras,
escondidas em veias pulsantes de meu peito...
Justifica minha existência,
e serei de tua mais existencial frase,
o predicado sujeito...
Poderei ser apenas mais uma vírgula...
Mas... Lê-me!!!...


JC DARK

[Dionísio Dinis]

Lê-se e declama-se com grande prazer.Um poema com arte e sonoridade bem marcadas.Para ler e reler!

[koukla]

Lê-me...uma descoberta pessoal. Gostei muito!