estremecimento

[Mel de Carvalho]

estremecemos o tempo em clepsidra permanente
quando nos retemos à força dos ventos alísios em clichés
de velas desfraldadas e de mós de pedra, colocando
deliberadamente pequenos galhos na engrenagem.

em entropia ferruginosa, as mãos empalidecem os  gestos
dos segredos revelados à pala da  loucura e, escorreitas,
apenas as águas, se atrevem a mestiçar a pele de lágrimas
na busca de seculares caminhos de lábios entreabertos.

desta viagem
de que não escolhemos o início nem sequer o fim
e onde o destino desrespeitando regras geométricas
paralelamente nos cruzou
deixamos rastos de baba empolados de mágoas nas páginas
inocentes de um livro que, às escondidas, vamos
tacteando e afagando, milímetro a milímetro, a medo,

      ... e, no medo de nos perdermos definitivamente
      no atavio de um verbo que fica sempre por dizer,
      surge lapidar certeza de que, um no outro, existimos
      muito para além do termo finito de nós mesmos.

[Mel de Carvalho]

Domingos, sou-lhe grata ad eternum pelas palavras que me deixa, pela leitura que das minhas faz.

Bem-haja,
Mel

[Aleph]

Cara Mel de Carvalho,

A beleza deste poema reside, para mim, no equilíbrio constante entre o assumir de uma narrativa e a sua simultânea  negação. É, afinal, um poema que conta uma história verídica ou uma história que encerra em si a verdade de um poema? Julgo que nunca ninguém o saberá, nem procurará sabê-lo, nem mesmo os seus intervenientes, pois é um poema-viagem que se percorre e se cumpre a cada leitura (e se refaz em cada escrita).

.......
Aleph

[Mel de Carvalho]

Aleph,
sou-lhe particularmente grata pela leitura que faz deste poema. concordo consigo, é um "poema viagem" a um tempo de que o tempo não sabe.
Abraço fraterno,
Mel

[Carla Costeira]

Definitivamente, eu não sinto receio algum em me perder... pela tua bela poesia.

Beijinhos *

[Mel de Carvalho]

LFilipe,
o seu olhar atento dá sempre novas dimensões ao que escrevo e isso é muito gratificante. os seus comentários são em rigor, belíssimos textos, que, não raras vezes, seriam per si, valiosos.
grata, muito grata,
Mel

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Carlita, 
"perde-te" à vontade amiga. os meus textos só são meus enquanto os não solto numa tela, num papel. depois, amiga, são "caminhos de achamento ou perdição" ... sei lá, Carlita.
beijo muito grato

Mel