TÃO FRIO QUANTO A BRISA

[zésilveiradobrasil]

Farto dos dias nefastos isentos de poesia, o velho homem sentou-se na cadeira espreguiçadeira no quintal,
ao ar livre, num atalho disfarçado de sossego, a fim de enganar o corpo cansado, do calor que ainda fazia até àquelas horas da noite, e cochilou.
Ao lado dele sobre a mesinha auxiliar de jardim, seus vícios proibidos;
uma garrafa de bebida forte consumida até a metade, com o copo emborcado no gargalo; metade de uma cigarrilha apagada no cinzeiro, a última, das três adquiridas diariamente, e nessa quantidade, para evitar o abuso do fumo.
Dos lícitos; o rosto do seu amor, sua amada, retratada na fotografia sépia, posta no velho portarretratos
de metal zinabrado, com o mesmo sorriso maroto e olhar seguidor congelado, direcionado para dentro da saudade.
Aquela mesma saudade desenhada desde que o deixou.
Juntos; sua caneta dormitava próxima ao fiel caderno de anotações, sonolento, de folhas embeiçadas, capa desbotada, lombada e seixas carcomidas pelo tempo de manuseio diuturno.
A madrugada engoliu a noite, e a brisa folheava-o aleatoriamente, descortinando os segredos ali apostos, incitando os sonhos que rondavam o sono que lhe chegara muito profundamente.
Seguia a vida a mercê das forças da natureza, do momento, indivisível, toda a sua trajetória sendo desvendada e espalhada pelo chão desordenadamente, naquele instante único e derradeiro.
Relíquias guardadas em cada página, tesouros que seus dedos cristalizaram em versos, poesias, como se pedras preciosas fossem, assim como seus poemas de amor, que não vai precisar mais guardar.
Seu corpo jaz tão frio quanto à brisa.
O poeta está morto, mas deixa imaculada a sua poesia.

[Dionísio Dinis]

"O poeta está morto, mas deixa imaculada a sua poesia. "
Este prosear está legitimamente vivo, e assim se desnuda ao deslumbre do leitor.Bem-haja amigo JoséSilveira , por continuar a partilhar connosco a sua escrita.

[Dete]

Lindo este seu texto...
Apetece dizer:
     que a brisa espalhe tb a poesia
para que o poeta não morra...
apenas adormeça.
Bjo
Dete

[helenacosta]

 " Seu corpo jaz frio quanto à brisa"... Simplesmente belo!
 
  Beijos
  Helena

[Goreti Dias]

O poeta está morto, mas deixa imaculada a sua poesia.
De verdade!

[marcopintoc]

Caro Silveira,
Saudades desta tua escrita delicada e que prende sempre o leitor. O poeta está morto ,viva a sua obra
Abraço
Marco

[zésilveiradobrasil]

"O poeta está morto, mas deixa imaculada a sua poesia. "
Este prosear está legitimamente vivo, e assim se desnuda ao deslumbre do leitor.Bem-haja amigo JoséSilveira , por continuar a partilhar connosco a sua escrita.

Obrigado Dom Dinis, um pouco ausente por motivos alheios a minha vontade. Mas retornarei logo. Grato pelo olhar amigo.
Um abraço fraterno
Silveira

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Agradeço o seu carinho de comentar poetisa. Um beijo e  afetuoso abraço Dete.
Silveira

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Obrigado Helena, acolho com carinho o seu comentário.
Um beijo e afetuoso abraço.
sailveira

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Que seja sempre assim. Obrigado Goreti, é sempre uma alegria para mim a sua passagem aqui.
Um beijo e afeto
Silveira

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Querido Marco, é muito importante para mim o seu olhar. Inda mais com uma observação sua. Obrigado meu amigo.
fraterno abraço.
Silveira