Burity
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« em: Agosto 26, 2009, 17:48:03 » |
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Sentado, agarrado aos mÃseros quatro cantos desta inventada casa, onde se sente o mal, quem sacode os pés para entrar, a sala ao fundo de todos os outros ruÃdos do bairro, das quimeras das vendedoras de lingerie que usam e abusam dos favores das crioulas perfumadas com água-de-colónia feroz, ambulante, graciosa e gratuita aos que a seu lado se puserem, com ou sem narinas despertas a inalarem vagarosamente um requinte de extremos ou por que favores o farão, se dependesse do vento ficaria do lado de lá das nossas conversas, levadas com a frequência incolor destes telhados velhos e vadios, dos rumores dos outros moradores que me confundem com as suas meteorológicas divagações, com a rapaziada afoita destas ruas de mau cheiro, garrafas atiradas ao desdém de qualquer silêncio pela madrugada preenchida a arrufos e vómitos estrangeiros nas narinas visitantes de algum cavalheiro sem zelo, e do portão apenas tudo se passa da forma como consigo ouvir e ver, e mal, desfraldo o silêncio abafado nos requintes magros da minha raiva e sigo, sem dali sair, guardo-me nos arrufos inquietos de tantas outras madrugadas em que pretendia sem conseguir virar-me do avesso e fechar os lados do meu corpo, guardá-lo por baixo do vinho que embala os lençóis nocturnos da minha vontade e dormir pedaços disfarçados. Se dependesse de mim não se riam com esses ares descalçados de feras ambulantes a enervar o silêncio dos parvos, desvalados também como se queira, desleixados como proletários mascarados nas trincheiras do vÃcio de cena, imitam mal, sei, mas sorriem estúpidos como esferas de quintais zoológicos desta cidade que se esmera pela qualidade dos seus rios, fazem-se obras demasiadas e nelas as minhas narinas esbranquiçadas pelo betão cru de máquinas barulhentas e desfazerem-me em espirros compulsivos, sobem com os corpos descuidadamente inclinado para os lados como numa sinfonia de álcool a azedar-se por dentro num fermentar de acasos, de esgana, rios de troça onde nem sequer de si se apercebe e vai, escada acima, por esta rua de fantasmas velhos agraciados pela norma histórica delas mesmas, as ruas cansadas de tanto frenesim antigo a perpetuar-se noite fora, é o que mais vejo por aqui. Independente, independente e triste, viro-me do avesso tentando descobrir o meu lado coberto pelas fúrias adormecidas, pelos sargaços antÃpodas de vitórias que conquistarei antes que as madrugadas desta rua me dissipem de mim num voraz atrevimento de inocentes, e me levem com os seus hábitos de vernáculos noctÃvagos a arrastarem-se pelas esquinas estranhas que imagino daqui, levo atrás das costas o odor velho das minhas memórias esquecidas, sigo na masmorra vendida de merceeiros que se encerram antes da alvorada desta gente sem rumo, que apenas aqui aparecem para importunar, arreliar as gentes de idade que tentam sem sucesso adormecer, bebem como pardais perdidos na floresta de betão dos bairros de madeira ainda a pouco tempo, urinam propositadamente contra os muros de policia que faz vista grossa, riem os outros ali, mais abaixo um pouco, ninguem se incomoda e eu quero sair sem conseguir, as pernas ficam presas à s minhas memórias, os braços seguram-se ao portão de ferro desta casa de ninguem onde ainda há tão pouco tempo se ensaiava para os santos populares, ninguem mais me irrita tanto. Volto a pegar no sono largado, perturbado com a barulheira que incessantemente vem dos teus pés com botas de brutos, como se fossem cavaleiros medievais caminham pela escadaria de madeira destas antigas instalações de alunos salesianos, alguns tornaram-se padres, outros viraram músicos de bares nocturnos nesta casa de pasto do bairro alto, mesmo por baixo de onde estivera eu há anos, ao lado vive uma senhora idosa e resmungona, atira baldes de água suja aos veraneantes destas passerelles de perdidos, assim penso, mesmo que não sejam, que me importa se me incomodam também, na madeira antiga do prédio em frente continuam com ritmos desenfreados de falta de senso e respeito, mesmo que sejam anarcas, com ar de alguém sem nome, mal vestidos ou calçados com pantufas para disfarçar o meu génio, seguem uns e outros por ali, agarrados aos postes de electricidade na busca de equilÃbrio, como se estivessem bêbados, enfatizam o meu pretendido ganho de tempo, o meu silêncio há tanto procurado, para que consiga entretanto adormecer se me permitirem os anjos, porque gosto. E assim é, pleno dois mil e três, este nada de rua da rosa, anafado de bêbados ao volante de Mercedes sem cor seguem, escapes barulhentos a provocar senhoras ou meninas que queiram boleia até ao fim da rua apenas, gargalhadas descuidadas por falta de bons hábitos e enfim, armados, felicitam-se, todos da pior maneira, o lixo que dança pelas paredes, alcatrão, pedras dos passeios com cheiros horrÃveis da urina calcinada de vinho, a encardirem os sapatos que descalço quando entro em tua casa, mais nova que a minha. Enfatizava o espelho quebrado na esquina desta estrada, pedaços de rumores contra gritos espantados, o balcão dos azedumes e das carcaças, tipo baratas, coisa assim, um género de conversa que se usava nos casebres de militares, antes dos convénios e dos paradigmas próprios, hoje, sei, em desuso, talvez pela evolução das coisas e das realidades virtuais que se assombram e cada vez mais, nada do que era, sabemos, como o destempero desta salgada confusão de arrumadores nas esquinas de dedos esticados num chamaria frenética a inventar espaços, nesta crua saÃda da cidade a imbróglios para a noitada, uma vez mais, o imenso de arrufos por ali. E lá, onde se esmeram nadas, afoitos e feitos como a janela quebrada virada a sul, com vista para o rio, para os navios, para o cheiro da nortada que anima por instantes este silencioso afastamento da realidade, o chilrear nos ferros, o eléctrico moribundo quase difuso me confunde num gesto que me oferece soluções para ter mesmo de continuar, as salas a encherem-se, jantares granfinos e malefÃcios enterrados nesta carne que parece um jarro de vinte escudos. Adiante, como se os espectros voassem, não, naufragassem, como se os espectros engolissem o resto que finda desta série confusa de silenciosos refrães, e colmatar devagar a falta que me fazem os espólios, o sol claro da tarde, a vida a desfraldar das suas vindouras sapiências, preciso por isso que venham na velocidade natural beber comigo este vinho sem o aroma desnatado das tuas intrigantes convulsões, o som claro do clarinete vândalo da sala e desfrutar da liberdade que me esbarra ao sair do portão, o oprimente solavanco dos muros que se esbranquiçam naturalmente, assim, venham como quiserem, não me importa mais como forem, como queiram, como entenderem a verdadeira solução dos meus convulsivos desplantes, gritar aqui, como os berros que ouço da rua, vadios como o vento, dependurados à janela sem o ruidoso vácuo do desdém, natural como a estirpe sem rumo das noites a que me soltam por vós, sem um nome, sem uma solução sequer, sem um resto de estimulo, aqui me deixo levarem-me, evacuarem-me dos escalopes pescados na maresia, dos pargos engolidos na deferência ou na saudade, e pelo muro do quintal do meu vizinho, eu, espreito o verdume aberto, fertilizado, o verdume imenso do quintal a estender-se pela jangada de cristal, pátios de ninguem, lá, e vou como se a vida me tornasse no que nunca seria noutra condição, mas assim meto-me por eles e sigo, olhando apenas, mitigando como entenderem esta desnaturada ausência de consciência como querem os sérios, que não sei sentir-me ou ser.(...)
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