este é o cadáver do homem bom

[Mel de Carvalho]

este é o cadáver
do homem bom.

tinha a fleuma de uma cigarra
um jeito brando de beber de mim
o suco que se escorria
de cada palavra
mesmo daquelas que, por gentio pudor,
silenciava
ao altar dos deuses
e dos bichos…

este é o cadáver do homem bom

uma  fenda na muralha
uma jangada de pedra
uma bóia de chumbo
uma passagem

secreta

sem regresso, o tempo.
para o teu mundo

e um jogo de jogar
à cabra-cega, meu amor…

e este vento
e esta brida cálida
a embrulhar-me em tua alma
e a cortina cerrada
e a saia subida

e o ondular suave
da espuma
a boca

e este acordeão de braços
e de pernas
enroladas
caule, espinho em rosa,
aberta
flor
de amar, além da vida…

e nós, sibilando aragens finas,  
a diáspora prevenida, em celebração maior,
do corpo que a terra há-de correr,
transladados do que fomos
no que  somos,
sendo, unos, confirmados

homem
mulher

em  forma bíblica.

amar-te é dizer amor
amante
amora

e de novo amor, de amar,
amora… amante
e rosa-flor,
tenor de mim… Senhor.

   este é o cadáver do homem bom
   e este dia o último do século vinte e um…


Inédito, 10/02/2010

[gdec2001]

Que fogo por debaixo das cinzas !
seu
Geraldes de Carvalho

[Goreti Dias]

Como diz o nosso amigo Geraldes: que fogo!
Beijo

[Mel de Carvalho]

Estimados amigos
Geraldes de Carvalho
Goreti

este é um poema de glorificação ao Homem Bom que existe em todos os homens. àquele que, comungar, biblicamente, da parte outra de si. e se der na medida do receber, traçando rotas adjacentemente paralelas. concomitantes.

e esse (o tal Homem Bom) nunca morrerá, ficará em todos os tributos de todos os artistas, dos pintores, dos poetas ... - fora eu poeta e outra seria a exaltação de o dizer por certo;  assim apenas este é

… "o último dia do século vinte e um" (um poema futurista… ehhh)


amigos, grata pela vossa atenção.
abraço fraterno
Mel

[Vóny Ferreira]

Inebriante,
belo,
mais adjectivos para quê?
Não escreve assim quem quer,
mas quem sabe e é capaz!
Sua fã,
Vóny Ferreira

[Alfredo D]

Acho que é um poema bom.E se penso que sou deus, direi que é um poema masculino escrito por uma putativa mulher.O sexo e o poema são de diálise e de osmose.Assim é deus que fala.

[Mel de Carvalho]

Vony,
sou-lhe gratíssima pela sua leitura e pela generosidade (constante) dos seus comentários.

Bem-haja. Fraterno beijo
Mel

___
Alfredo D,  Igualmente grata, deixo-lhe aqui uma pequena nota:
na poesia, no poema, a substancia de que se geram as palavras na alma de quem as escreve,  não tem género; e estas, são, simultâneamente, masculinas e femininas (digo eu); logo nem o senhor é Deus, sequer eu uma  putativa mulher ...
(vidé: putativo in priberam:
...
1. Que é reputado ser o que não é.
2. Jur. Diz-se do casamento contraído indevidamente mas de boa-fé, por ignorarem os nubentes os motivos que se opunham à sua união.)

 somos, caríssimo Alfredo D, apenas escreventes iniciáticos da palavra.

Bem-haja.
Fraterno abraço
Mel

[Alfredo D]

Supostamente o poema não precisa de explicação, nem deus! Nem as  não reputadas metáforas ausentes ou não presentes em qualquer escrita.
Um poema é.
Um autor faz-se.
Deus será, quem não der explicação aos polidos mortais.

Digo eu de deus e de mim!

[jessebarbosadeoliveira18]

amor sem fronteiras...
amor além da aurora...
amor além da supernova...
amor, a etérea poesia d'alma!

seu poema é lindo, profundo:
um majestoso oceano que copula
a alma de quem o lê(ao menos, a minha)