Acordei, com o cúpido morto ao meu lado!

[RosaMagalhães]

Surrealismo

Aterrei na ilha dos amores, uma ilha agoirada por assaltos de anjos clandestinos e armadilhas ousadas de bipedos sonhadores transformados em cúpidos. Na escalada da noite, chegou por engano um anfíbio de asas presas nos músculos, outrora roubadas aos anjos. A Ilha carregava amores silvestres, os anjos sobrevoavam soltos a prender todos os sorrisos que levaram para longe... meu amor lacrimejava de embriaguez enquanto dormia, a lua erguida-se lá no alto a iluminar a noite dos fascínios loucos, atributos físicos aterrados num engano. A ilha fascinante, de amores proibidos enganados pelos cúpidos, era um teatro mal afamado de fobias voadoras, a subir até às sombras por entre feras e melancolias sôfregas de contentes, enquanto os anjos largavam estrelas cadentes e setas á toa... ouviam-se barulhos estranhos a cair com o vento que trazia de volta, imagens nuas de cúpidos sem asas, todos fugiam das setas como diabos soltos, algumas já cravadas nas costas deles mesmos. Sofri a tua ausência. Na falta de asas, fiquei distante da lua e no peito guardei uma rocha de abrigo. Das setas que os cúpidos lançavam, soltavam-se penas e malícias a espirrar letras nas poesias minhas. As setas perdidas seguiam direcções erradas. Os anjos corriam atordoados a segurar as que sofriam pequenos desvios, surgiu o caos e as setas velozes de magias, arrastavam os anjos para longe. Na ilha vagueavam outros abstroncios sem flores, sem perfumes e sem beijos a cantarolar os amores ausentes, como minhas pétalas caídas nas aguardentes. Sonhadas delícias, sem asas suspensas sobre poemas meus. Os poetas ousados encostados à falésia, repousavam melancolias na espera do amor invasivo que tardara. Vi-me no meio da solidão. A ilha dos amores já ressonava com a própria ausência. Nas laranjeiras em flor, empoleiravam-se macacos amarrados, de unhas e dentes aos sentidos das cumplicidades. Das morfologias retirei meu alento, inventei outras asas sem mim, os cúpidos morreram de contentes. Ficaram palavras amargas e as mais fervorosas, fermentaram a minha mente, vi letras como estrelas cadentes sustentadas no vazio trazido pela lua, vi carruagens de andorinhas aguçadas por outros sentimentos, mais ternos mas devoradores de todas as letras. Esqueci o sono no cinzento da noite, os cúpidos esqueceram de mim e as setas que voltaram ao ponto de encontro, de onde partiram, foram puros enganos, o amor foi atirado ao devaneio desvio, deixou de permanecer no infinito do desejo! Hoje, sem cúpidos e sem anjos, sem asas e sem amor caminhamos na ânsia, morreram todos os cúpidos e o amor é exagero! Acordei,com o cúpido morto ao meu lado!

Rosa Magalhães

[Goreti Dias]

Cupidos sem asas e sem setas? Decerto não... Bípedes sonhadores todos podemos ser, mas Cupido é que não, por certo. Exagero será acordar com o Cupido morto ao lado. O amor não morrerá assim.

[RosaMagalhães]

Cupidos sem asas e sem setas? Decerto não... Bípedes sonhadores todos podemos ser, mas Cupido é que não, por certo. Exagero será acordar com o Cupido morto ao lado. O amor não morrerá assim.

)) Obrigada pelo comentário

[Eduarda]

Rosa,

quando me lembravas a Ilha dos Amores!

surrealismo ou realismo em tantos.

bj

[RosaMagalhães]

ui faz tanto tempo já Eduarda isto foi em agosto e depois hibernei...
entre tantas outras coisas que já fiz, voltei com saudades e vim apanhar a ultima ponto do novelo que aqui deixei na verdade neste escrito pode ver-se o real e o surreal ... que por aí anda a passear pela vida de tantos seres humanos!
beijos
Rosa

[António Lóio]

Oh Rosa, v. desculpe mas essa ilha parece-me pouco aliciante, excepto em sonhos. Abstroncios, cupidos soldados, chuvas de setas e por fim um cupido morto. Pesadelo, bem imaginado sem dúvida numa escrita sui generis, de que aguardo continuidade
Tom

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Instigante e muito bom. Realmente gostaria de ler uma continuação.
Parabéns, Rosa, pelo texto.

Abraços do Brasil

[RosaMagalhães]

Olá Oswaldo (tens um nome muito bonito)
obrigada pela mensagem... e quem sabe um dia destes haja uma continuação )
Beijinhos e um Feliz Natal
Rosa

[Dionísio Dinis]

E por vezes o real é mais intenso por entre improvável caminho surreal.Gostei!

[RosaMagalhães]

obrigada Tom pelo comentário e quem sabe a história não continue...
mas de facto tem razão pois um cupido morto é pesadelo 
Rosa

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Meu nome é o mesmo que o do meu falecido pai. O Eurico era o nome dos meus avós (o paterno e o materno). Gosto muito do meu nome (e do sobrenome Rodrigues também).
Também gosto muito do seu nome. Rosa é um nome muito caro e agradável para mim e Magalhães é muito imponente e belo. Enfim. Belíssima junção no nome Rosa Magalhães.

Um feliz ano novo para você, Rosa.

Beijos.

[RosaMagalhães]

*agora parece que vou conseguir responder

Dionísio, será mais intenso o real por não conseguirmos "entender" o surreal?

o Oswaldo é grande apreciador de nomes, tb gosto muito do meu, lembra sempre as rosas perfumadas nos jardins...
beijinhos aos dois e Bom Ano cheio de boas realizações reais :DD
Rosa