TÃO SÓ

[António Casado]

António Casado__________07 Dezembro 2011


TÃO SÓ
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Entro pelas paredes da casa dentro
Onde as sombras se aninharam na fisionomia
Deste corpo vazio de sentido…
Percorro a sala como um vagabundo
Que exorciza o corpo e a alma
E a entrega esquartejada ao mundo

No frio que me adormece com ternura
Mergulho no mar imenso do vazio
Que de nadas e quimeras me enfeita…
Sou apenas um pedaço dessas sombras
Que me atam os pés e as mãos
E nada mais…

Não espero ninguém e ninguém vem
A esta casa sem porta nem janelas
Feita de paredes lascivas e dormentes…
O silêncio traz com ele a surdez
De todos os momentos calados
Entre a lucidez e a demência
De querer partir pelo mundo à procura
De quem bata à porta da casa sem porta
Para que eu a abra na minha loucura

No espelho que não tenho o meu rosto
Desfigura-se como a tinta das paredes
Que perderam a cor de tanto me verem chorar…
Choro por mim, porque pelo mundo
Um rol de piedades indolores
Rasga-se no pranto de tanto amargar

Remorder só o vazio de um nada
Que ao nada me conduziu…
Apeguei-me a sonhos e os sonhos falharam
Como uma lareira apagada
A tentar aquecer-me deste frio

E não tenho mais nada
A não ser um naco de amor esquecido
Numa ilusão qualquer…
A luz cobra-me a alvorada
O chão aprisiona-me os sentidos
Na minha casa fechada

Resta a dúbia figura da paixão
Que por não ter por onde arder
Apaga-se na minha lareira apagada

[Maria Gabriela de Sá]

Muito bom, este poema.

Parabéns

Abraço

[helenacosta]

  A "lareira" jamais ficará apagada com palavras tão belas!

[Goreti Dias]

Quantas pessoas não poderão considerar a sua casa assim! Triste, mas bela esta forma de descrever esse lar tão vazio.

[Dionísio Dinis]

A intensidade da palavra, a emoção da ideia escrita e todo engenho  envolto na construção dete poema valem os meus sinceros aplausos.Gostei deveras!