Sem título(161)

[Dionísio Dinis]

Tenho em minhas mãos, vagamente entre meus dedos plácidos,
um mundo de indecisões plenas, daquelas acabadas
de serem geradas com o medo da luz e da revolta.
Todo o temor dos homens pelo sangue necessário ao amor e à raiva,
da boca efervescente de beijos e impropérios, e toda esta vida completa
em quotidianos estranhos e quereres dúbios…
e o sabre desembainhado na boca de um grito.
A paz e o desjejum do sono tranquilo das noites amantes completas,
a guerra com a vontade da faca e do fuzil geneticamente cravados
nas mãos firmemente bélicas,
com dedos decididamente ágeis… e esta
absurda constância de mim a macerar a ousadia perdida.

Tenho em espelho consorte a luz magistral em noite de breu infindo,
e digo da palavra perdida entre um corpo derrotado e a audácia da cabeça
lancinante que hoje é o tempo certo para ressuscitar inocências perdidas.
Dizer de perdê-las de novo é dizer da coisa perdida como o nunca possuído.
com sem saber de mais nada e sair direito ao mundo sem algo que nos pertença,
caminhar em acerto por erros repetidos.
Dizem a vida como tentativa, e então falo da morte a bailar-me por entre
dedos calmos e resilientes,
escuto por entre claridades dormentes os rios de sonhos decantados
no mais profundo dos oceanos distantes:
entre os dedos, a escota e o barco do desejo na bolina estridente do vento
sem norte; entre os braços, o alor de sentir pleno o sol em mim.
Nada mais na bagagem que a sorte de um bordo feliz,
nada mais que não seja o essencial de mim.

Transporto comigo a luz e toda a claridade por sorte maior e
 levo nos olhos as músicas que hei-de escutar de novo
em portos longínquos, as danças de cores ousadas, e levo dedos
entrelaçados nos meus dedos e amor presente e físico,
de todas as formas materiais como este ar, este sol
que me bafejam.
Por mero acaso, por ser da ordem dos dedos plácidos e guerreiros, e
talvez por ser pertença de uma certa claridade.
    
Dionísio Dinis

[Goreti Dias]

Por ser da ordem da claridade e da ordem da escrita de qualidade superior, vale a pena refletir sobre este poema!

[Dionísio Dinis]

Grato pela leitura e e elogioso comentário.

[Maria Gabriela de Sá]

Senti o mesmo, Goretidas,  senti cada palavra. Parabéns DD.

Abraço

[gdec2001]

Li várias vezes este poema e é sempre novo .
abraço
geraldes

[Caucasiana]

Confesso que não percebi tudo, mas gostei do que percebi

[gdec2001]

Voltei a ler : Entre a desesperança e a esperança...ou serei eu quem está (?)
seu
geraldes

[carlossoares]

Ao ler o poema se descobre a poesia como a verdade tantas vezes renegada...