pedrojorge
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« em: Janeiro 05, 2008, 14:32:40 » |
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As amputações na rua eram constantes, chutavam ali e além, eram cadáveres, sobre um alcatrão corrompido pelos Peugeot e Clio’s modificados a 150 km/h, ruas estreitÃssimas, os ajuntamentos eram constantes, como vÃrus que de tempo em tempo se juntavam para atacar uma célula, como o azougue, como lÃquidos que não se misturavam, a facilidade em se atraÃrem e se unirem. Que feira. A seringa no chão, sobredosagem, tragédia ou então vago vagabundo que permanecia a dormir, era o que pensavam certas mentes que o rodeavam, outras viam uma certa neblina, empinavam o nariz para o dealer e caminhavam sobre as botas rotas e os ossos a estalarem colados à pele, um cigarro SG Ventil na mão, 19 no bolso, uma pastilha, um molho de setenta euros no mesmo e único bolso das semi calças de ganga. Cruzava-se entretanto com outro sujeito, com cogumelos por pecúlio, tal não era o desuso. Cambaleavam, zombies, a adrenalina era algo esquecido, vÃcio, frenesi sim. Era uma esquina, precisamente um beco, a toca do dragão, algo procurado por séculos, que só cessa fogo quando a polÃcia nunca mais sairá dali. O Tejo, rio enorme, vasto pântano de seres vivos subaquáticos, lamaçal… — Anda cá. — Uma voz chama. Aproxima-se. Agarra braços, dois, sente-se o toque das suas mãos. — Maconha? — Olha as mãos vitimadas ilesas de dinheiro. O padecente segue frio, inerte, sem reacção, pálido, amedrontado interiormente. Era um género de bufo, de verme ali. Larva entre formigas. Ali ninguém é, ali o tempo acaba a velocidades muito inferiores à da luz, ali as leis da luz findam, ali está o exemplo das exclusões, ali que é nada… — Shunk.
— Cogumelos mági… — Aprisiona-os e desaparece no meio da vigÃlia. A luz dos candeeiros sobre o saco de plástico.
Outro corpo. Condescendente água dos esgotos que verte ao lado dos caixotes da espurcÃcia. Ali há relógios, mas nunca se houve o sino. Ali a miséria avassala, Ali, ali, acolá, além, mas mais que miséria é o fim. O desfecho, o desfecho, o desfecho, os candeeiros voltam sempre a ligar-se, salvo quando são partidos pelo embate de uma bala.
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