Burity
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« em: Agosto 26, 2009, 17:59:36 » |
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Sinto apenas o que pretendo, ser o que da distância o nevoeiro ofuscar, sinto apenas a maré fria, o mar solto nestes lábios de desforra a naufragarem nas areias do longe por entre a desistência, sinto a minha voz ecoar na minha sede, sinto o meu retrato calar-se no quarto ao amanhecer e nele, o colorido da foto dependurar-se com a idade que avança sem rumores, sem temores, sem nostalgias, sinto o bairro esconder-se do refrão das falésias, das sequelas herbÃvoras da madrugada, do medo de ser nada, do temor dos anjos e das esferas que o mundo inala, sinto o respirar parado deste amor que dorme em silêncios ancorados, sinto o frio perdido dos meus impulsos e abandono-me na mais sapiente resposta contra as mais sólidas amarguras, sinto a displicência frutÃfera das tuas palavras, das que me soas vertiginosamente no quintal, sinto as tuas mãos vândalas na mais distante verdade do meu mundo, do meu resquÃcio abandonado por mim mesmo, por onde me sacrifico gritando-me para dentro num eco tresloucado aos deuses do além, este balcão cheio, vazio, nenhum, o bar das correntezas putrificadas das mãos que me servem um cálice mais de veneno apenas que seja, sinto o frio que me desola a ânsia, a solidão, a mentira, não, por que serei assim o recuo Francisco, por quem me dirigem os teus sapatos avulsos, o sapateiro de margens na foz deste Tejo de ninguem, a emergir a cidade acordada há minutos, num copo mais, não sinto o sono dos meus olhos, dos meus gestos devorados pelas pupilas fechadas já, não consinto que me levem as agruras destes lençóis derrotados pelo meu peso, pelo meu escasso destino, onde morrerei sem que me deitem, onde dormirei apenas pelo sono, onde me deito jamais com prostituta alguma, levem-me quando me sentirem no fim desta luta inventada pelos meus devaneios de proscrito, à s vezes outro agrimensor medindo os compassos da manhã num relvado ambulante por onde sigo, a direcção predilecta das palavras insidiosas da verdade de tantos na margem de seres renascidos, o pescador dos momentos serão todos os militantes refractários da vida, os que dormem na rua ou sonham com palácios de ninguém, resmas de poesia na frescura desta vida que não vale, sinto-o pelo menos, se me é permitido sentir, vejo por entre as muralhas escondidas este regime de regentes sem nome a aglutinarem-me contra os meus próprios declÃnios, a avançarem com içados arames de guarda a refrescarem-me as ideias e deixarem-me solto no lado de lá de tudo o que os meus desejos pronunciem, caÃdos do céu como vermes, como verdes lagartos do Miramar, como virgens violadas na madrugada, como cineastas sem solução, como Profetas na jaula dos seus próprios rumores. Eu. Se soubesse amar, talvez me confortasse na displicência vândala dos seus abraços, sem rumores, no afago nómada do seu instante, colado aos muros da sua orbita, sim, mas não, nem como me livrar destas inconstâncias que me refastelam no seu divã, de cócoras, levantando os ombros num desdém próprio e tÃpico de quem sabe apenas lamuria-se, no queixume próprio dos que andam no mar há anos, se soubesse como preenche-la convertia-me completamente nas azáfamas do seu desejo e descia aos tumultos súbitos do seu desejo, num conforto ocasional, sem rumores, se soubesse como conservá-la aqui apenas para que me escutasse, tudo faria mas não sei, levo comigo nestes tumultos de derrota promÃscua a inverter-me para os lados lúdicos da sua ausência, a desflorá-la com requintes de nada, como se mais não me permitissem os anjos que se alojam na memória, e dou por mim num quarto de banho a vomitar os desejos, os desenhos lacrados na pele como tatuagens virgens. Saibam como me divido nestas inconstâncias, como a desvendo de dentro num arrepiado fervor de forasteiro sinaleiro do tempo que a cidade descobre, ou recobre, sim, queiram como um sinal descobrir restos na avenida salutar uns sinais a aventurarem-se seguindo eu a rua, por ela acima, ao cruzamento que surja, ao grito que me apele o que for, que seja, como for ou aparecer eu evitarei, claro. Onde estarei então? Resenhas inoportunas, recados assimilados contra a vontade por este caminho que se vai descobrindo, no sentido das vozes ali dissecadas como quiserem, o telhado da casa velha a tombar lentamente, as telhas, o verdume que ali nasce a cada olhar vocacionado, os rumores instalados nas janelas pelo ruÃdo que delas se dissipa, e lentamente, ninguem nos pedestais alojados aos varandins dos hospitais, das enfermarias decalcadas com excesso de contingente circunscrita pela vida debilitada, por entre tantos pudores disfarçados e algemas colocadas no pescoço como se fossem feras soltas ao manicómio dos meus destinos, dos meus olhares badalados como quimeras ambulantes de fadistas que regressam à amargurada melodia, pelos arrufos melancólicos de guitarras que gemem dores antigas, mares perdidos, fins-de-semana inteiros sem que se encontre o rumo ou a saÃda para estes desmazelados tormentos. E silêncio, não no excesso que me vandaliza a vontade de nada mais ouvir, não nos resquÃcios desta rua enervante, nem da casa de ninguem, idas a praia soçobrar ao de leve a pele, nas resmas cruas pelos grãos da areia que nasce a cada cambalhota, meio molhado pelo suor que me rasga a pele tão quente a tarde, à agua não, não, nem os dedos dilacerados sem destino, não, nem o resto do corpo decorado pela vasta dor de cima a baixo, por dentro da cabeça a vontade flutuante como asas de andorinhas infinitas, do degelo dos meus rumores a minha incipiente vontade que não há, de nada nem para coisa alguma, reviro os olhos para lado nenhum como se os tivesse de todo fechados, vendo com os ouvidos o declinante silêncio das aguas por mergulhos seus areia acima, os corpos estendidos numa euforia cálida por toalhas coloridas num rouxinol de telas, visto de cima como se fosse um aviador dos meus delÃrios, fileiras indÃgenas numa sequencia obstinada, como alguma vez pudesse haver ordem ou regra, como se na verdade os organizadores daquela organização se destinasse apenas ao infortúnio dos que ardem nas falésias escurecidas daquela que será sempre uma vontade inigualável, ninguém percebe, ninguem se apercebe do que os espera, mais tarde ou nunca, onde jamais o vento impere e faça eclodir nas paredes de praia nenhuma um grito vândalo de raivas recalcadas, um abismo sequioso com contornos estranhos a invadir-lhes os poros com beijos de maresia, o banho voluptuoso nas estepes coloridas do horizonte, a encharcarem devagar, a cada passo, mais fundo na alma a água bebe-me com sedentos silêncios de beijos a perfurarem-me a pele seca de solidões por esquecer, depois os braços, como um pinto a tremer dependurado nos arames da capoeira, a abanar de vez em quando a cabeça para fazer saltar dos olhos o frio salgado desta onda brusca, inesperada, depois molhar tudo, os calções nas profundezas de imensas cores deste mar que sobe e desce sem que me aperceba sequer, depois eu todo lá dentro, sem respirar, sem nadar, apenas a evoluir lento nesta vontade enfim, o meu corpo contra o corpo frio a conspurcar-se do quente na areia, atiçada contra a pele sequiosa tal a transpiração envolta completamente até à s têmporas, nos contornos dos olhos sem cor a luz baça do sol faz-me pestanejar imensas vezes, e esquecer entretanto quando a agua me arrefece e alegra como se a vida se jogasse naquele instante sem outro ritmo que fosse, sem outra ambição sequer, tudo era naquele instante o que vivia para sempre, enquanto durasse ali o desejo que foi tão-só, esse, sair depois, é claro, no paladar do vento que chega sem rumo e vem do norte, ou vem do sul, ou de lado nenhum, sinceramente não sei, a refrescar-me com um frio de pele molhada até aos ossos, esticados, na falésia disforme do areal ondulado e quase branco, agora sim, para dormir como um vadio sobre uma toalha espremida e apanhada nos cantos sórdidos do quarto que veio comigo, e dormir até bastar sem sono mesmo, os olhos não me respeitam a abalam ao sono, mesmo contrariando-me e vou, para dentro da minha única saÃda. Sobre esta areia.
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