Alice Santos
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De mãos dadas pela poesia.
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« em: Março 21, 2020, 16:04:26 » |
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Neste tempo, em que o distanciamento fÃsico é obrigatório e somos forçados a estar longe de quem amamos; neste eclipse de afetos, em que partilhamos dores à distância, em que descobrimos que, afinal, todos precisamos de todos; neste mundo, cujo ar temos medo de respirar, mas do qual carecemos para sobreviver; nesta hora em que urge dar as mãos e tal nos é vedado… Eu digo-te, sim, a ti, só a ti, vem e diz-me o que esse teu coração, que teimas em manter impenetrável, mas que sei doce e quente, cala e grita trancado nessa tua alma inquieta. Sei que ainda vamos ouvir aquela melodia que nos arrepia a pele, nos faz rodopiar num salão de lustres brilhantes, nos arrebata e transporta para uma dimensão inventada por nós, onde só tu e eu sabemos que tudo é permitido. Fala-me do céu que dizes ser azul e te cobre de angústia, do vento que entra pela janela escancarada na vã esperança de enviar para longe esta incerteza. Conta-me uma história onde a primavera floresça, onde as cigarras cantem mesmo sem ser Verão, onde o mar refresque nossos corpos sedentos de beijos e o amor seja a mais bela sinfonia. Deixemos que se escreva de forma simples, macia, sem medos…
Não mais haverá medos, nem sombras, nem lágrimas ao adormecer. A noite, acolhedora, albergará amantes, lembrará os lÃrios do jardim, o aroma a hortelã à mesa pela manhã. Não mais se ouvirão os silêncios doloridos, derramados nos olhos orvalhados, nem o eco dos gritos retraÃdos escorrendo pelos telhados. O novo dia virá! Prenhe de sonhos em flor, pleno de segredos em festa. Brotarão dos olhos jasmins exalando sorrisos. Germinarão dos lábios beijos, quais camélias brancas, esvoaçando como borboletas carmim poisando no poema que transborda do meu peito.
Alice Santos
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