Vitor da rocha
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« em: Julho 30, 2010, 13:35:53 » |
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Lenço de Papel 9
À noite, muitas vezes, é ele quem lhe abre a porta, já com a menina aninhada, recuperada da mão dos outros. Houvera uma notÃcia que tivera de ser composta à última da hora. A paginadora reclamara por falta de texto. Ou por texto a mais. Faltam ou excedem-se mil e quinhentos caracteres. Buscara palha num recanto da mente. Ou procurara o melhor local para o corte. Quase sempre o parágrafo final. O que menos diz depois de tudo dito. Tivera de ver as fotos e escolher uma dentre todas, iguais. Noutros dias, nem sequer recolhe a casa, pois a sua cama muda-se para Lisboa. Para o estrangeiro. Bruxelas, imperadora da Europa. Frankfurt, a mulher da massa, a banqueira. Londres, a mercadora, velha senhora dono do mundo e agarrada à sua bolsa, menos volumosa, mas ainda apetecÃvel. Paris, a moda e o bom viver. Feiras de negócios. Encontros de barrigas cheias. Nestas andanças, são múltiplos os seus orgasmos com a profissão. É assim que sente o jornalismo como um parceiro dos poderosos, também comensal dum bolo a repartir por poucos. Para chegar à mesa, nem que tenha de matar polÃticos. Crucificar deputados e legisladores. Prender juÃzes e senadores. Condenar à fome os senhores da economia. Enterrar sob mentiras um vip qualquer. Com o mal dos outros é que o jornalismo vive. Como escaravelho no esterco. Conhecimentos. Relações. Deles lhe sai o cimento com que ergue o edifÃcio duma peça. Segundo uma fonte bem colocada no Ministério..., posso afirmar que a montanha pariu um rato, que Deus morreu, e que o mundo há-de explodir à s mãos dos homens ou dos meteoritos. Ama o marido? Ama o ar que respira? Nem se dá conta de que ele está á sua volta. São seus, o ar e o marido, como o carro, que há-de trocar não tarda muito, o gravador, a carteira, os sapatos, o isqueiro. Ama a filha? A filha é uma palavra que saiu de si, uma entre milhões que já transvasou. Sexo? Feliz. O marido é cumpridor, fonte diversificada de sabores, adepto de posições minoritárias e exuberantes, apreciador de temperos. O único mal, apesar da diversidade, é o facto de o cozinheiro ser o mesmo. E há sempre um toque especial em cada mão que tempera, que, sendo sempre a mesma, se está farto de conhecer. Também lhe falta tempo. E já lhe vai faltando vontade. São os dois espinhos da rosa, que só a dedicada penetração na sua profissão dilui, aquela com quem mais se tem deitado, além do homem. Por vÃcio, que não por necessidade, abre a porta da rede mundial, mar onde tem pescado muitos peixes. Cotações da bolsa. Rumores. NotÃcias que lhe passaram ao lado. Números. Dados estatÃsticos. Por aqueles sÃtios conhecidos passeou, como salta-pocinhas enfastiada, que não quer regressar ao dever de concluir a tarefa que a espera.
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