Guacira
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« em: Agosto 13, 2010, 14:15:33 » |
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Um dos meus mais acalentados sonhos era conhecer a Chapada Diamantina, porque desde muito pequena ouvia histórias fantásticas sobre a região, contadas por meu pai, que era de lá, e tinha um excepcional talento como narrador. Já havia quase desistido, quando meu psicanalista predileto fez O Convite...quase não acreditei! Daà em diante foram só planos; faltavam ainda 15 dias para a tão esperada caminhada - a proposta era essa: caminhar na Chapada - e eu já não conseguia dormir...Comecei a preparar roupas apropriadas, porque nesta época do ano aquela região, como de resto todo o interior da Bahia, é muito frio; era julho. Claro que nada disse ao realizador do meu sonho, porque ele poderia me achar muito ansiosa e estressada, coisas assim...sabe como são os psicanalistas, não? começam logo a enxergar um monte de paranóia na gente! O grupo era composto de pessoas que eu não conhecia e isso foi surpreendentemente rico e prazeroso; houve uma sintonia absoluta, imagino até, que muito favorecida pelo próprio astral do lugar, em que o homem se integra ao seu habitat /gênese; a natureza. Engraçado observar o quanto somos afetados por essas coisas; o quanto mudamos nosso comportamento e nos tornamos mais humanos em ambientes mais ligados à natureza e desligados do nosso cotidiano desesperador vivido na urbanidade... Sem dúvida, por ser essa a nossa essência, a nossa natureza verdadeira. Jamais vou poder esquecer esses dias, ainda que lá volte muitas vezes. Na verdade, existem momentos únicos na vida da gente; momentos irrepetÃveis (podem acontecer outros até melhores); como se um portal se abrisse no Universo para nos dar de presente a magia que só pode ser percebida se estivermos muito atentos para pegá-la no ar, naquele exato momento! Nunca pensei em praticar uma caminhada tão radical; escalei pedras que tinham três vezes a minha altura; pulei sobre formações rochosas, sob cachoeiras, que tinham verdadeiros abismos lÃquidos entre si; levei uma queda caindo dentro de um buraco arenoso, que me deixou as costas feridas e doloridas por dias após retornar. Porém nada disso foi mais importante do que viver aquela experiência. Trouxe de lá guardados importantes, que, passados mais de quatro anos, ainda me alimentam; me levam a reavaliar algumas coisas...uma consequência deles é este poema que aqui vai, como resultado das minhas observações, da paisagem e sua velhÃssima história, contada pelo nosso interessante e sádico guia, a quem apelidei de Fred Krueger (deu pra entender? rsrs), um verdadeiro compêndio da história, da geografia e da biologia da região, além das relações com alguém muito especial:
PEDRA DE FOZ És como o grande abraço antiséptico das imponentes pedras de foz presença forte de eternas guardiãs que são começo mas também limites. Tens imutável e frio o olhar embora invejoso sobre os seixos que rolam sensuais uns sobre os outros ao sabor do vai e vem das correntes. As pequenas pedras que se deixam envolver nesse aconchego nem por isso brilham menos. Mas não te sinto a grande rocha fria tens o não assumido Ãntimo louco pelo abraço pelo perder-se do sujeito e misturar-se na inconsistente massa se deixar lamber e se deixar levar pelo canto úmido das águas e conhecer seu leito.
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