vitor
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Olá amigos.
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« em: Setembro 12, 2008, 23:44:53 » |
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Pela janela sinto entrar o brilho do tempo. A varanda despida envolve-se no arrufar da rua. Todos os dias cedo ainda. Saudades de dizer bom dia, Bom dia ao dia num jasmim do sol. Sorvia suave o vento, pelas orlas nuas da porta, o corrimão aguçava o silêncio num eco brilhante, de fora entrava suave a cor da rua, de onde vinhas e eu estava, delicadamente. E a noite desfaz-se nos rastilhos deste sol, o sabor gordo de babas numa gincana entre os dentes, ramelas como obstáculos tiram a nitidez do momento, e eu apenas sei, naquele momento, sentir os olhos da pele encostarem-se ao lençol ainda quente como se o sonho não tivesse terminado ainda. Descubro de seguida as entranhas da pele e levo o corpo ao prazer de um duche, salpicando suavemente sobre mim jorradas neste chuveiro enferrujado e de cheiro velho, gasto, cansado, moribundo. Ejacula por todos os buracos partes de agua como uma fonte desapontada em sobressaltos e sem orientação, as aguas cegas que molham ali o calor vadio do meu corpo. A tua mão encolhe-se, amenizada, numa distância apenas reflectida pela não sensação da presença material das tuas necessidades, os gritos ténues de caules que balouçam com soluços rendidos ao colorido e desesperado corpo onde consiga avistar a serena vontade de ter-te. OrquÃdea. No cheiro raso e obtuso de um vaso entornado nos terrÃveis sonhos que um dia tivera, na maré torta desta casa com o cheiro ainda dos beijos intrincados neste microfone encardido de saliva inventada como quem berra os suores frios e cálidos apelos à noitada contigo no dia anterior, sobre poros talvez, qualquer refugio constipado de morar-te no útero com mais desejo ainda por ti, como se esta fosse a primeira vez que fizera alguma vez com outra mulher qualquer, e não conseguisse depois expulsar-me ou explicar-me com que exactidão, por quantas partes se divide o regresso ao quarto abandonado de terrÃveis e incuráveis ausências de mim mesmo, neste quarto de noites simplesmente pintadas em telas da imaginação. Ou com que impessoalidade viajante se veste adormecida ao cheiro nómada desta agua fertilizante que me viola com prazer os suores do corpo. Direi ainda um dia aos vizinhos deste campo como se torneiam com tornos tortos do tempo este tédio interrompido apenas por lapsos de memória. Com rastilhos acres. Segredos secretos, neste quotidiano incolor, a vida assim por entre as janelas, como conversam difusos, silenciosos marasmos, como divagam sob este vento que regela a pele, parecem um rally paper verdadeiro os meus verdadeiros disfarces constrangidos na face recoberta, encoberta talvez, sob a face oculta dos dias. Conhece de cor a cor incerta destes ventos, conhece orquÃdea, a parte mais longÃnqua da estação, este relento que se abre por nós como despertar qualquer dia, adormece certamente na brasa sensata das ideias, pele da idade castra a razão, corta o refrão dos nossos desÃgnios neste à bordo navio da sala sem vinho, ala nua dos nossos sonhos, bebem-se calmamente que importa, a certeza aniquilante das incertezas mais concretas, este prevaricador distante instante. Como dizer-se cansado do nefasto, como queira evadir-se dos olhos esta vontade ambulante e jantar na rua de corpo sem pele, digo sentir a vida, sabe, digo inventar, sair-me de mim, como se a ausência fosse possÃvel decorar-se sem oriente, as ruas acabam por entre as equinas, onde se começa nova passagem pelos calos do tempo, sabe, foi aqui onde sempre vivi, onde nunca dormi sem que soubesse que iria partir um dia, foi aqui a mãe dos filhos que criei, a mãe da minha saúde, foi aqui sabe, que rasguei e devassei todos os segredos, foi aqui, onde simplesmente deixei de pertencer-me. Não posso dissecar-me sem que antes abra as portas do oriente. Seco entretanto como papoilas ingeridas num jantar difuso, os disparates pardos da vaidade engolirão esta vontade, quatro viagens similares à descoberta da áurea, do árido insucesso restam estas calmas que arrepiam. Pelos cantos perecem as aguas, as ondas dum tempo enjaulando na minha ausência este regresso que parte, vozes que me vomitam se outras me inventam, queria a certeza como a claridade desperta. Badalam sobre a cabeça os silêncios interiores de qualquer conversa perdida, dentro de qualquer vontade, as palavras parecem perderem-se num mar arrufando as sÃlabas ténues deste lençol mastigado e revoltado pelas oscilações que invento, das noites ainda ali disparatadas, foram certamente e ainda assim, quisesse eu viajar pelas entranhas movediças da ausência, sabe orquÃdea, foi sempre o que disse e nesta hora mais morta sinto a palavra a enquadrar em si, suculenta ao vento, ao desanuviado mais que nada cada alento, rebolo e sei de certeza porque motivo, sem o caule enterrado ao raro regado terreno por que a sinto alem, as areias promÃscuas da noite hão-de regalá-la e na mesma perspectiva tocá-la, e eu, embora queira, não que mais que descrever estes astutos passeios pelas telas do sonho. Apenas o silêncio deste burburinho sagaz me faz despertar. Caules da casa varrem diásporas e nós nela, seguimos o vento das luas encarcerados na vontade que entretanto descobrimos, sei que sabemos nada saber e nisso apenas o destino nos leva a jangada de pedra de um poeta qualquer. Pensar na ordem silábica dos teus silêncios, os ecos abusivos abrem a alma adormecida e eu, nada mais faço que seguir o destino castrado dos meus entes queridos nadas, esta casa de relvas nuas sorvem como paz, o luar inventado na pedra aqui ao lado, sexto ou sétimo andar de uma vida ainda por começar. A perspectiva aqui é diferente, não tem o cheiro dos passos que cavalgam moribundos, o cálice entornado sobre as saias, daqui, apenas sinto o movimento das ancas repelentes dos teus desejos, dos teus sorrisos. Contra muros e travessas a dança da tua caminhada, relutante e sincera, parece o cabelo da noite num bar de vontades a escutarem vozes daqueles que antigamente cantavam rythm and blues das casas americanas da Europa. Ou soldados dum exercito vencedor sempre, temendo a castração de um membro numa explosão vertiginosa de uma granada que nem sequer hoje se usa já. Bebo secamente uma ansiedade constante parecendo viciado em saudade sempre, devoro numa frequência incessante com gestos repetidos a saudade de colocar na boca enchendo a amarga delÃcia de um uÃsque que vomitara amanha, na ampla e verde distancia deste canto de bar adormecido na minha casa à beira rio. Sabe, sempre que repita alguma coisa é apenas para ressalvar a vontade de ter mesmo que esquecer e sem que recorde, falar delas é isso mesmo e sempre mais do mesmo, vomito como noites o tufão da minha garganta seca sempre, apenas hoje. Por isso ainda aqui estou, na jangada acastanhada que me trepa por dentro e pelos ossos, roçar entretanto pelo cálice esverdeado os lábios sedentos de nova morte, como partir inebriado esta bebedeira necessária, as unhas sorvidas de neve neste patamar que se imagina, descalço invento como sentir os pés num mar de luas turvas, os gritos perderem-se na azafama esquisita dos momentos, como apelar, sim, que me diz, se me escuta divague e esta cólera arrasante leva do mato um fundo de mar sem sal, os delÃrios da sala sem luzes que se acendam, vómitos cabrestos na ronha e eu sem sentir-me me devolvia a dias que viverei num talvez destino acabado. Esteja a vontade, sente-se, este odor a defunto há-de libertar as narinas do medo, as áridas seladas deste templo tenro nos indicarão onde na certa melhor poderemos estar, sem que leve para dentro da fantasia o resto morto da noite anterior e que sem nos apercebermos trouxemos agarrado à minha vontade de sermos pacientes.
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