Vóny Ferreira
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« em: Setembro 30, 2008, 15:44:24 » |
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O medo por vezes invade-me, persegue-me e eu não sei se fuja desse medo nas pernas de uma gazela, ou se rasteje como a cobra, e o estrangule com a cauda invisÃvel de um pensamento vingativo. Quero matar o medo e paradoxalmente fico com medo de não ser capaz…! A isso chama-se insegurança. Pelo que devoro nos livros de psicologia que leio, fica-me a percepção e a consciência dos porquês. A consciência abre-se assim como uma flor logo que o dia raia, depois da aurora. No entanto a invencibilidade do medo é maior, e lá vou eu... seguindo os contrapassos do razoável. O medo… o medo… Amotina-se dentro de mim, com espadachim de um assassino, com um desplante de macaco exigindo bananas no zoológico do subconsciente. É nesses momentos que regrido no tempo. Os acontecimentos marcantes e traumatizantes vêm-me à memória em acordes de flauta desafinada. Por instantes... inexplicáveis instantes, revejo o coveiro inclinado sobre a enxada que rasgara a terra. A mesma terra que faria com que a minha avó desaparecesse da minha vista para sempre, embutida num miserável caixão, com um qualquer anjo prateado inocente no topo a servir-lhe de consolo. Ai... o medo que senti nesse dia! Ver a avó ali num sossego de estátua e depois um homem curvado sobre uma enxada a despejar terra para cima dela como se ela fosse um grotesco fantasma. Com as minhas lágrimas grossas gritava aquele homem em silêncio, porque sempre gritei em silêncio quando tenho medo,... >> pára... quero a minha avó, pára de lhe atirar com terra e tira-a dessa horrÃvel caixa de madeira>> Ah... mas o medo... o medo venceu-me sempre! As palavras afogavam-se nesse terrÃvel medo, e as súplicas eram esquecidas na amargura horrÃvel que ficava a fervilhar dentro do meu coração. Um dia mato esse malvado, medo! Está decidido! Estrangulo-o. Serei capaz de estrangular alguma coisa? Sim... ao medo, hei-de ser capaz... juro!
Deixará então de andar por ai atazanar-me, armado em abelhão aturdido, a ensaiar voos astronómicos em plena praia, enquanto me deleito descontraidamente ao sol. O medo é um pouco como o abelhão. Por mais que o enxotemos ele aparece... como se fosse um foguetão super sónico
Ah... mas o meu pensamento é mais forte, há-de ser mais e mais.... porque não? Se subo às árvores em pensamento. Se sou gaivota, se acaricio o mar em voos rasantes, em plena tempestade, Se sou borboleta a ensaiar o seu bailado flutuante se sou papoila a sorrir na terra árida e seca dos caminhos... Porque não hei-de ser o medo, SEM MEDO?
VÓNY FERREIRA
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