Antonio
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« em: Outubro 07, 2007, 14:23:22 » |
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Após ter subido a Ãngreme e alta montanha, de ter passado a linha das nuvens, de estar a olhar para uma paisagem toda feita de algodão em rama, vi-me diante desse paraÃso onde habitam mais de três mil deuses: o Olimpo. Entrei seguro. Apreciava com prazer as belezas cénicas que se me deparavam, quando comecei a ouvir um som melodioso. Aproximei-me aos poucos e deparei com o famoso coro das nove musas dirigido por Apolo, irmão das meninas com voz de sereia. Cantavam o famoso tema Obladi-Obladá! Mais à frente encontrei Deméter, a irmã de Zeus que é a deusa das terras cultivadas, a plantar uns belos pés de alface. Pouco depois, num vinhedo, reconheci DionÃsio, deus do vinho, a verificar o estado dos cachos. Tinha um cálice na mão e Ãa sorvendo um trago de quando em vez (não sei qual o seu conteúdo, presumo que não era cicuta). Caminhei mais um pouco e olhei, bem de perto, Pan, o deus das pastagens, que Ãa cuidando de um rebanho de bem acolchoadas ovelhas. Tinha o ar concupiscente de quem não é grande admirador da lã virgem. Atravessada a pastagem, encontrei um bosque onde corria um regato e, oh imagem perturbante, um número incontável de ninfas, seminuas, iam-se divertindo a correr, a esconder-se, a banhar-se na água cristalina. Aquilo pareceu-me muito mais o paraÃso do que o que vira até então. Mas, azar o meu, logo depois estava em frente ao portão de entrada dos subterrâneos do Olimpo. Pensei em ir dar uma olhadela e saudar Hades, irmão de Zeus, que governava também o reino dos mortos. Mas Cérbero, o cão de três cabeças e cauda de serpente, que guardava o acesso a esse território, estava com cara, quero dizer, caras, aliás focinhos, pouco amistosos. Dei meia volta e embrenhei-me novamente num bosque (sempre com as ninfas a correr e a saltar, coitadinhas das inocente, mas pensamentos muito lascivos me passavam pela cabecinha) até que fui dar a um mar interior. Ali mandava PosÃdon, também irmão de Zeus, e sua mulher Anfitrite. E no mar estavam as cinquenta sedutoras e perturbantes filhas de Nereu, as Nereides, que se banhavam sem pudor nas serenas e divinas águas. Felizmente para mim, Poseidon não decretara nenhuma tempestade para essa ocasião. Assim, pude deliciar-me a apreciar, com os olhos desorbitados e os dentes como ossos, as beldades a gozar as delÃcias do sol e do mar. Contornei esse magnÃfico espelho azul e, finalmente, entrei na zona aristocrata do olÃmpico Éden. Zeus, o rei dos deuses e dos homens, estava majestosa e helenicamente sentado no seu trono, ladeado pela bela esposa Hera. Esta já não era muito nova, mas conservava ainda os traços e a silhueta do que fora outrora uma belÃssima jovem. Perto estavam os filhos mais queridos: Artemisa, deusa da caça, mas também da lua e da noite (não me constou que tivesse alguma casa de strip-tease ou discoteca). Hermes, que protegia os comerciantes e os ladrões (que associação tão curiosa!). Atena, amasculinada, com um generoso buço no rosto e massas musculares de uma culturista, era a deusa da guerra e da indústria (pesada, creio). Ainda pude ver Hefesto, deus do fogo e da metalurgia, a supervisar a preparação de uma encomenda de não sei quantas espadas (daquelas longas e chatas como a de D. Afonso Henriques) para satisfazer sua irmã Atena. Ares, também deus da guerra e sócio da atlética mana, vigiava o controle de qualidade, dando umas espadeiradas por amostragem. A que guerra se destinaria esse armamento? Seria a uma guerra de alecrim e manjerona? À guerra dos sexos? Não descobri! De repente, reparei na mais maravilhosa mulher que jamais vira! Era Afrodite! Sim, Afrodite, a deusa do amor e da beleza. A vontade de amá-la nasceu e muito depressa aumentou, aumentou...mas, como simples mortal, temia o que me pudesse acontecer se desse um passo em falso. Reparei que faltava o mano Apolo, mas ainda devia estar com o coro das musas, a exibir o seu rosto imberbe e o seu corpo bem esculpido, gesticulando com uma doçura de mulher. Mas eu continuava maravilhado! No Olimpo! E Afrodite ali tão perto! Os meus pensamentos estavam cada vez mais descontrolados e prenhes de lascÃvia. Mas a ideia de poder ser obrigado a descer ao Tártaro, o lugar dos suplÃcios e das dores infinitas, o inferno do Olimpo, aplacava os meus Ãmpetos. Por outro lado, se caÃsse nas boas graças da filha de Zeus, talvez tivesse garantido um lugar eterno nos Campos ElÃseos depois da morte. É o céu do Olimpo. A dúvida era um pouco angustiante, mas a sedução da bela deusa... Triiiiim!!!! Tocou o despertador. Maldição! Porque é que os sonhos acabam sempre?
Nota do autor: Este conto obteve uma Menção Honrosa (juntamente com outros 15) no Concurso de Contos promovido em 2007 pelo site "Ora, vejamos...". Concorreram 21 autores com um total de 67 contos. Está publicado numa colectânea não-comercial (Um Mar de Contos) juntamente com todos os outros premiados.
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