Figas de Saint Pierre de
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« em: Novembro 10, 2018, 13:40:36 » |
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AI AS PUTAS QUE ME BEBERAM O VINHO! Fó na década dos anos cinquenta, do século passado, que o menino Figas, todas as vezes que chegavam os quentes dias de verão pensava naquela excursão; visitar seus avós, tios e tias.
Compradas em Valongo, uma dúzia de boas e frescas regueifas enchiam um grande saco, como bagagem extra da viagem.
Chegado o dia, eis a demanda até à estação Campanhã, onde aquela lesma, de aço, gigante, que o Figas já conhecia, doutras viagens, arfava com seus quentes vapores. Seus êmbolos aguardavam a hora de darem os primeiros coices de arranque, ao inicio da viagem que, passando por todas as estações e apeadeiros, com abastecimento d’água, para saciar a sede da “menina negraâ€, duraria quatro horas até chegar à Régua.
As carruagens, que formavam o caracol do comboio, pintadas de verde, era as texanas, ainda do século XIX, com seus varandins, sÃtios onde o menino Figas preferia para, de pé, fazer a viagem, rejeitando os corridos bancos de pau.
O menino Figas gostava de apreciar curvas e contras curvas, com sua cabeça bem lançada ao exterior, apreciando a locomotiva, lá longe, a entrar numa curva, enquanto a cauda do comboio se arrastava no resto da reta!
Levar com a negra fumaça na cara, era a cortesia da máquina, a sua chancela para quem se atrevia a pôr a cabeça de fora da janela. O resultado era que quando desembarcou, o menino Alexandre mais parecia um representante dos mineiros de São Pedro da Cova
Naquele mês de Setembro, o rio Douro tinha sÃtios, onde mostrava a secura dos dias da dureza do Estio, mais parecendo um largo regato, todo escanzelado, com as costelas do seu leito à mostra, dura penedia que, envergonhado, exibia. Todavia, não era insultado, não fosse ele vingar-se, com mais uma cheia, imitando o dilúvio a desaguar na Ribeirado Porto.
A linha do Douro é muito polvilhada com muitas estações e apeadeiros, que iam ficando para trás, com seus recoveiros, que se iam apeando, juntamente com a descarga da mercadoria, que levavam para a sua clientela, que no Porto se abasteciam, até que passado o túnel do Juncal já cheirava a chegada ao destino; Godim, onde as regueifas foram acordadas do seu torpor de viagem, pousadas no cais, mas logo alçadas ao lombo de quem se voluntariou para o seu transporte, durante uma boa meia hora, perfumando o ar com odores de pão fresco, para chegar, ladeira da Seara acima, ao Lugar do Vale, onde situada a casa dos vós do Figas, logo avistada quando que chegados ao largo, onde imperava a capela a São Sebastião.
A avó do Figas, sentada na varanda, tratava das suas favas piladas, que mais tarde, numa lareira, no meio da cozinha, entravam num grande pote de ferro, fazenda as ricas sopas e as famosas receitas da avó. As regueifas foram recebidas como que bolos rei ou pão de ló.
A pequena rua, era dominada pela famÃlia do Alexandre, uma casa a seguir a outra e outras em frente. De todas eles se destacava a casa do tio do Figas; o tio Mário, homem trabalhador e fornecedor de produtos para o amanho das vinhas, e, por vezes, cinco vagões, carregados com adubo e ferramentas, eram de Campanhã, despachados para ele, que tinha como destino a sua clientela. Uma vez, disse a seu sobrinho Figas: “Tás a ver isto tudo? Tá tudo pago. Não tenho faturas para pagar, a ninguém†Era o sentido da honra, de quem em seu sangue tinha a nobre linhagem dos Vilhenas!
Foi em sua casa que os pais do menino igas e sua irmã almoçaram. Como de costume, era uma genuÃna e alegre receção que faziam. Para o menino Figas sobravam as exclamações: “Olha, que bonito! Como está grande!†Sua irmã era premida com:- “Que linda que está!â€
Sala grande, grande mesa e nela, como de costume, um festival gastronómico, para ser devidamente apreciado. Sem dúvida, que nas suas vindas ao Porto, o tio Mário tinha adquirido bom gosto de bem servir, com produtos da melhor qualidade. Por falar em boa qualidade, Figas viu seu pai a ser convidado a visitar um quase secreto vão de escada, onde jazia uma meia pipa de vinho tinto, das suas vinhas, que, segundo ele, era especial. Agora, agarrem-se, tapem os ouvidos para o ricochete do: “Ai as putas, que me beberam o vinho†“Ai as putas! Que grandes putas!â€
Ainda hoje, o menino Figas, mais seu pai, atrás de seu tio, se recorda de o ver, com a infusa na mão esquerda, sob a torneira da pipa, enquanto com direita a rodava, mas esta, após guinchar ao rodar, vinho não soltava. Tornou a fechar a torneira, tornou a rodar mas vinho sem pingar!
-“Ai as putas, que me beberam o vinhoâ€, brado dito com aquele rude e puro sotaque duriense.
-“Foram as criadas, de certeza. Depois, eu falo com elas.
Não houve problema, porque não faltava alternativa para suprir a falha daquele vinho especial.
O menino Figas ainda não bebia vinho, mas na memória ficou aquela sobremesa de bons morangos silvestres, com chantilly. Quanto ao resultado da investigação sobre as “Putas que beberam o vinhoâ€, nunca chegou a saber! ………….xxxxxxxxxxxxxx………. Autor: Silvino Taveira Machado (de Vilhena)
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