Antonio
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« em: Setembro 20, 2007, 17:25:54 » |
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Paris! Cidade mÃtica! Desde criança que a capital francesa era o local mais apetecido para um dia visitar. Não me perguntem porquê. Provavelmente porque desde sempre ouvi e li coisas lindas sobre a cidade Luz. Talvez por lhe chamarem cidade Luz. E o dia de visitar Paris começou a desenhar-se quando integrei a Comissão Organizadora da viagem de curso. Não foi inocente a minha opção de participar nessa comissão. Havia alguns sÃtios que muito gostava de conhecer e, ao ter capacidade de intervir na escolha do itinerário…estão a perceber, não estão? E um desses locais era, obviamente, a mundana cidade centro da Europa.
Foi assim que, a vinte e nove de Março de 1973, a camioneta com os 34 viajantes deixou Bruxelas e se dirigiu a Paris. Ficamos instalados em dois hotéis, pois não tÃnhamos encontrado um que, por si só, tivesse vagas para todos. Eu e um grupo mais pequeno fomos alojados no Hotel Peiffer, na rua de l´Arcade, pertinho da Madeleine. O Jacinto (lembram-se da aventura na “zona†de Amsterdam?), ainda hoje grande amigo, já o era na altura. E, muitas vezes, os dois fugÃamos aos outros para procurar descobrir esse mundo novo que era a Europa desenvolvida, da liberdade e da democracia, mais à vontade. Quando anda muita gente junta, acaba por se perder mais tempo. Uns querem isto, outros aquilo. Não acham que é assim? E um dia e duas noites em Paris não dão para desperdiçar um minuto que seja. Pois foi com ele que partilhei o hotel e toda a aventura parisiense. Na primeira noite fomos passear a pé pela cidade. O Arco do Triunfo, Campos ElÃseos, Pigalle. Enfim! A noite parisiense na rua. Chegados ao hotel, e perante um mapa da cidade e outro do metro, planeamos com todo o rigor possÃvel o que farÃamos no dia seguinte. Bem cedo, descemos para o pequeno-almoço. Fomos servidos à mesa por uma bela empregada a quem lançamos uns piropos no melhor francês que conseguimos esgalhar. E como a mocinha não falava português, fizemos alguns comentários (usando mesmo o vernáculo à moda do Porto) a zonas da sua anatomia que nos chamaram a atenção de forma mais destacada. Refeição acabada, toca a pegar nas coisas e pés a caminho para a estação do metro. Já na rua, ouvimos uma voz de mulher a chamar. Instintivamente, olhamos para trás. Era a empregada que nos servira no hotel e que, em bom português, disse: - Acho que esta máquina fotográfica é de um dos senhores! Ficamos positivamente petrificados. Afinal, a bela francesa era...uma emigrante portuguesa. Mas, rapidamente refeitos do impacto daquela verdadeira traulitada na cachola, foi o Jacinto quem retorquiu: - É minha! Muito obrigado! E a visita ao Paris diurno começou. Madeleine, Notre Dâme, Louvre, Torre Eiffel, Inválidos, Túmulo de Napoleão, Opéra, Saint Germain e mais uns quantos locais que não relembro de momento. Mas uma das coisas fascinantes em Paris é que em cada rua, em cada praça, ao dobrar de cada esquina, lá está um monumento, dos mais conhecidos ou dos outros que não sendo tão famosos são igualmente belos. Devo dizer que uma das obras que mais me impressionou, pois nunca a vira em fotografia, foi o túmulo de Napoleão. Essa famosa personagem histórica dissera, em vida, que as pessoas se curvariam perante ele mesmo depois da sua morte. E, de facto, o mausoléu fica num piso inferior ao da entrada, existindo uma abertura circular com um murete e a primeira coisa que as pessoas normalmente fazem é ir junto dessa varanda e inclinar-se para ver cá em baixo o túmulo do imperador. Também quero referir que fomos ao famoso e velhinho mercado Les Halles. Já estava tudo vazio, inclusive as tabernas da sua vizinhança onde, por certo, muitas canções teriam sido cantadas com o acompanhamento do imprescindÃvel acordeão. Estava tudo deserto pois iria ser demolido, em breve. No seu lugar está hoje o Centro Pompidou (espero não estar a dizer asneira). A certa altura, penso que exactamente nessa zona, dirigimo-nos a um sujeito de meia-idade para lhe pedir uma qualquer indicação acerca de um local que pretendÃamos ver. Prontificou-se logo a levar-nos ao tal lugar, que era bem pertinho, aliás. Quis saber de onde éramos. - Nous sommes portugais! – disse eu. - Também eu! – retorquiu o homenzinho. Tinha de ser. Quem, senão um português, poderia ter toda aquela hospitalidade? E estivemos a conversar um pouco com o emigrante que estava radiante por nos ter encontrado. E assim passamos o dia. Regressados ao hotel, depois de ter comido qualquer coisa rapidinha (naquele tempo ainda não havia “fast foodâ€, mas umas sandes e uma cervejinha pouco demoraram), preparamo-nos para o “Paris by nightâ€. Mas onde haverÃamos de ir? Perguntamos à recepcionista, uma jovem francesa (esta era mesmo…) muito bem arranjada e maquilhada, aonde nos aconselhava ir: Lido, Folies Bergères, Molin Rouge… Respondeu com o seu sotaque parisiense (eu quasi morro quando ouço uma mulher a falar com aquela entoação; até fico a tremer de excitação, confesso) não sem antes nos mirar dos pés à cabeça: - Pour vous…je vous conseille le Crazy Horse. Nunca tÃnhamos ouvido falar de tal cabaret. Mas a rapariga devia saber do assunto e, depois de tomarmos a decisão, explicou-nos como se ia para lá. E fomos ao Crazy Horse Saloon de Paris (fundado pelo Sr. Alain Bernardin que dirigia a casa com mão de ferro; faleceu há poucos anos). Ficava, e penso que ainda é no mesmo local, na zona dos Campos ElÃseos, rua George V. Ocupamos a nossa mesa. A sala era pequena e estava cheia. Predominavam os italianos, sendo a maioria casais. Pedimos uma cerveja que foi servida num copo enorme. E o espectáculo começou. Foram duas horas de um show erótico de elevado profissionalismo e com as mulheres com os corpos mais esculturais que já admirei. Só visto! Não sei descrever quão fabulosamente bem modelados, flexÃveis e sensuais eram. Acho que durante algum tempo acreditei que Deus existia. Só uma divindade poderia fazer coisas tão belas! Mais tarde, pela passagem de ano, e várias vezes, vi reportagens na RTP sobre a noite de Paris e lá vinha sempre em destaque o Crazy Horse. Algumas delas eram mesmo só sobre este cabaret. Tenho tudo gravado em cassete de vÃdeo. Como se costuma dizer: cada tolo com a sua mania! No dia seguinte, quando fazÃamos a viagem para Bordéus, conversando e comparando experiências com outros colegas que tinham ido a outros cabarets, eu e o Jacinto concordamos que em boa hora tÃnhamos pedido o conselho à recepcionista parisiense.
Nunca mais voltei a Paris! Costuma-se dizer, para realçar a beleza da cidade italiana dos canais: “Ir a Veneza…e morrer!â€. Eu digo: “Ir outra vez a Paris…e morrer!".
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