Paulo Afonso
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Escrevo… para libertar as personagens...
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« em: Outubro 13, 2007, 21:50:27 » |
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Peguei nas chaves do carro sem pensar no meu destino. Tinha a ávida necessidade de guiar, por ser algo que realmente me dava prazer e por ter um efeito calmante em mim. O dia tinha sido delicado. Há dias assim, em que tudo é o que não queremos, em que tudo acontece em cascata… afundando-nos também. Já no carro e ao som da música erudita deixei o meu pensamento vaguear em desejos banais e por projectos simplesmente normais, tal não era o meu estado de espÃrito. Pobre coitado! A minha esperança erguia-se com a noite, o luar seria um bom conselheiro e uma praia deserta talvez me devolvesse a sensatez de começar um novo dia, pronto para as intempéries da vida e predisposto a começar tudo com a energia de um novato aprendiz de feiticeiro. Percorri a distancia que me separava entre a realidade e a loucura, entrei sem pedir, sem ser visto e acomodei-me no primeiro lugar fantasia que encontrei vago. A loucura é um lugar comum para muitos, mas para mim, incipiente nestas andanças era uma experiência tÃmida e fugaz, sem malÃcia e sem pudor… Finalmente sentia-me livre, totalmente livre, só possÃvel em plena loucura. Depressa apagará o recente passado e imaginava-me no paraÃso, construÃdo assim á pressa e sem os detalhes que a vida real exige, coisas só possÃveis em activa recuperação da mente e do corpo. Afastará a agonia, primeira medida após entrar na loucura e depressa tinha passado para a segunda fase, a da idealização do nosso espaço inconsciente e benévolo, que nos arrasta para a realização moral e nos recupera para e da realidade diária. Mente e corpo. Na loucura as coisas corriam-me bem… ufa em algum lugar e a qualquer momento tinha que ser, bolas! O pior foi no dia seguinte, as pessoas quando me viam tentavam adivinhar a minha noite, pelas olheiras, disparavam hipóteses redondas de curiosidade, uns apostavam numa noite de discoteca e uns copos valentes, outros numa noite dormida á pressa e os mais incrédulos numa noite nas urgências de um hospital qualquer. O meu sorriso saÃdo da minha alegria natural baralhava-os, por ser um contraste com esse aspecto cansado de quem sofre as incongruências da vida. Todos ansiavam por uma resposta. E eu, não podia falar-lhes daquele sÃtio chamado loucura, ninguém iria acreditar, passaria por louco… Recuperado de mau dia, prontamente a minha imaginação engendrou um cenário… uma longa noite de lua cheia, numa praia quase deserta, eu e a minha sereia, com as ondas a marcarem o compasso de uma historia de amor… Grande maluco! Grande loucura! Foi o que consegui arrecadar desses inusitados curiosos que comigo labutam diariamente. Pois é! Pois é… Grande e pura loucura!
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