britoribeiro
|
|
« em: Abril 30, 2008, 11:13:08 » |
|
No domingo à noite o pequeno automóvel da Guarda serpenteou os montes, desceu e subiu encostas, os faróis mortiços iluminavam poucos metros à sua frente, mas suficientes para dirigir vagarosamente o velho Ford até à Gave, uma aldeia com 300 habitantes, uma das maiores da região. Parou a viatura no largo da igreja, poucos metros adiante estava o cruzeiro, não se via viva alma, apenas a candeia de azeite iluminava fracamente o nicho da Senhora da Natividade. O Tenente empunhou o revólver, desceu e deu a volta à pequena praça, sempre atento ao menor movimento. Nada!
Após alguns minutos de espera sentiu o barulho de passos no saibro da praça. Engatilhou o revólver, encostou-se ao automóvel, disfarçando a silhueta na penumbra. Um vulto aproximou-se e a meia dúzia de passos de distância perguntou: - Vossemecê é que é o da Guarda? O Tenente admirou-se por ouvir a voz nasalada de uma mulher, mas não desviou o revólver. - Sou, e você quem é? - Eu venho buscá-lo para o levar junto do meu patrão, que quer confirmar se veio só e não lhe quer mal. Venha comigo. - Onde? O local combinado era aqui. - Ele está à saÃda da aldeia e fale baixo para não acordar ninguém. Já basta o barulho que o carro fez para chegar até aqui. - Vai à minha frente e lembra-te que se me estão a preparar alguma, abro caminho a tiro. - Nada tema senhor, o meu patrão apenas quer falar consigo. Tomaram o caminho que subia para Valdepoldros, a mulher à frente, o Tenente meia dúzia de passos mais atrás, continuando a empunhar a arma. - Estamos quase a chegar, senhor – avisa a mulher ao fim de poucos minutos de caminhada na escuridão serrana, quando passavam entre azevinhos centenários. De repente algo assobiou nos ares e abateu-se sobre o Tenente que caiu de imediato. Outra pancada e mais outra zurzem o corpo estendido no caminho. O AlÃpio arfava do esforço e da emoção de ter arreado no oficial da guarda com o seu pau ferrado. Dera-lhe com ganas, que o malandro merecia. - Procura a pistola Rita, ele tinha-a na mão. - Já a tenho comigo. Vê lá se ele é vivo ou morto… - Diabos o levem, está cheio de sangue. Acho que não respira. - De certeza? - Sim… De certeza – conclui o AlÃpio. - Então vai buscar os animais para sairmos daqui.
Os dois cavalos e a mula estavam presos ali perto e num pulo o AlÃpio trouxe-os pelas rédeas. Atravessaram o corpo do Tenente no dorso da mula, cobriram-no com uma manta e amarraram-no de forma a não escorregar em andamento. No silêncio apenas quebrado pelas patas dos animais, os dois irmãos montaram e arrastaram a mula, caminho acima, em direcção a Valdepoldros.
(continua)
|