pantera
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« em: Maio 07, 2008, 22:49:31 » |
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Foi até à cozinha. Bebeu um copo de leite e ligou o rádio. Preocupado com o desaparecimento da sua famÃlia, pegou no telefone para comunicar com o guarda-chefe da esquadra da aldeia, o chefe Santos, que era amigo da famÃlia desde o tempo em que o seu avô caçava e levara um tiro no bosque. Lembrava-se desse dia como se fosse hoje. Recordou-o com angústia. O telefone estava cortado. Estava incontactável. – E se alguém encontra o paradeiro da minha famÃlia e tenta telefonar para aqui? Como é que me vão contar o fim trágico de suas vidas? Quase louco, foi apanhar ar. Abriu a pesada porta de madeira da cozinha. Levantou-a ligeiramente para não raspar no chão. Avistou logo o jardim de sua mãe; o orgulho dela.Ficou à porta. Observou tudo e lá estavam os canteiros reservados à s rosas, à s margaridas, à s tulipas e aos amores-perfeitos. Abrui bem os olhos e pensou para consigo: – Onde estão todos? A esta hora a minha mãe já andaria a tratar do jardim. Percebeu, então, que faltava qualquer coisa. – Os cravos! – gritou – Faltam os cravos vermelhos da minha mãe. Entretanto ouviu uma notÃcia que abalara todo o paÃs. – Uma revolução... – dizia o locutor. Os oprimidos tinham-se revoltado contra a ditadura salazarista. A agitação reinava em todo o paÃs, naquele dia que ficaria registado na nossa História – 25 de Abril de 1974. Sentiu o ruidoso barulho do motor de um automóvel. Parecia o velho Opel cor-de-laranja do seu pai. – São eles! Agora são mesmo eles! Correu em direcção ao caminho que dava acesso à casa e lá estava a sua mãe, o seu pai e as suas irmãs, Cassandra e Antonieta. – Vocês estão salvos! – gritou, com alguma dificuldade em projectar a voz. Tremia. Todos se abraçaram, comovidos. – Filho, é a revolução, é a liberdade há tanto desejada! Vem connosco. Estivemos toda a noite a preparar a festa. E ao longe já se ouviam os gritos da multidão, que se juntava na praça da aldeia: – Viva a liberdade, viva!
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