Vóny Ferreira
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« em: Setembro 10, 2008, 13:44:48 » |
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A flor que me deste lá está… embrulhada num lindo laço vermelho a tingir a agua de uma cor quase imperceptÃvel, embora roce o avermelhado, como se me avivasse a memória dos sinais de perigo. Parece lamentar-se em sórdidos silêncios do meu desleixo, ultimamente. Há quanto tempo não lhe mudo a agua? – questiono-me. - Que vergonhosa patetice! Por vezes fazemos o mesmo com o amores e com as amizades! Desleixamo-nos. Deixamos que a agua podre petrifique as recordações boas e as reduza a um punhado de coisa nenhuma…– ocorre-me esse pensamento à laia de profeta desmoralizado, sentado numa minúscula pedra da calçada, com a sua capa transparente, como quem chega iluminado de ausências… Tenho para mim, que só as formigas e os pássaros conseguem vislumbrar os verdadeiros profetas, como se eles fossem verdadeiros fantasmas que teimam em deambular nas asas do vento. Por consequência, é por isso, aparentemente… que os não pressentimos, que os pontapeamos enquanto caminhamos nesta correria desenfreada feita de rotinas, que faz dos nossos dias, autênticos cromos repetidos, onde nada acontece que nos ajude à renovação. Ah… e hoje o vento que não se manifesta…! A flor lá está… a olhar-me de soslaio só porque resolvi ficar um pouco distante, a olhá-la. Porque desaparece o vento nestes dias asfixiantes, em que a angústia nos parece fazer sentir um vulcão em erupção? Claro, eu sei… que o vento tem direito ao seu descanso, à s suas reflexões peremptórias quando resolve adormecer nas aguas dos rios, num sono profundo de bêbado em estado de coma. Mas hoje fazia-me tanta falta…! Morro asfixiada… que horror! E depois, lá está a flor a olhar para mim como se me desafiasse a lembrar-me de ti. OK… então olho-a de frente, numa guerrilha institucional de pétalas ressequidas. Estranhamente o que acontece é sentir um arrepio percorrer-me o corpo, como se as tuas mãos me tocassem os ombros com a mesma delicadeza com que o fizeste naquele dia em que felizes dançamos. Dançamos… sorrimos, dançamos… dançamos… Oh… lembraste? Estávamos tão felizes! Tão deliciosamente e pateticamente felizes. A musica soltava-se da aparelhagem com o mesmo fervor dos nossos corações, enquanto que nós num carinho inquestionável cantarolávamos a “telepatia†numa desafinação eufórica de quem se esbarrava nas palavras mal decoradas, entre a volúpia controlada do álcool. Porque será que o álcool nos desinibe os sentidos e nos aveluda a alma com uma auto-estima, inebriante? Eu falo com as flores, sabias? E esta também me fala e nem por um só segundo lamento que me fale de ti. Por mais incompreensÃvel e estranho que pareça, sempre foi assim. Quem me dá uma flor faz um pacto comigo. Nunca a esquecerei! É que eu e as flores temos uma cumplicidade de amigos eternos! Repito… caso tenhas esquecido. Sempre falei com as flores, sabias? Sempre as acariciei com o olhar, por mais zangada que me sinta, por mais deprimida que me invente. Só nelas e no mar, eu derramo as minhas energias calcinadas e poluÃdas, para depois renascer numa espécie de salto mortal de um trapezista. Espero por ti… tal como aquela flor aguarda impacientemente uma agua transparente… Não hesitarei em abraçar-te de novo, quando resolveres voltar a olhar-me nos olhos. A musica continua a tocar… “Cheia de penas… cheia de penas… me deito. E com mais penas… com mais penas me levanto… "
A Amália fala por nós, fala de nós, e eu acho que quando canta (esteja ela onde estiver) chora AINDA por todos nós! Até sempre…!
VÓNY FERREIRA
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