Luis F
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« em: Junho 08, 2009, 17:03:59 » |
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Prefácio
O medo da vida, o medo de si próprio… Soren Kierkegaard
Que subtilezas encerra a alma? Dolores Marques revisita-nos com mais um livro de poemas, de desabafos e reflexões sobre o ECCE HOMO, sobre a existência, sobre a vida vivida e por viver. Por vezes, não há como a sensação gloriosa de conseguirmos exteriorizar o cordão das nossas angústias e gritarmos ao mundo, livres e independentes, quem somos e o que queremos daqui. A autora afirma-se, do início ao fim, assomando-se inteira na brevidade do tempo que por ela e por todos nós passa… sempre, sempre… sem medos de assumir a vida, de se assumir a si própria.
Subtilezas da Alma chama-nos! É um apelo incessante para que nos movimentemos interiormente. Esta autora que nos fala abre-se a nós, revelando-nos os seus voláteis segredos guardados na alma, dos quais faz eco ao longo do seu livro como a querer fazer-nos renascer da cinza das noites, da espuma dos dias, da voz dos silêncios.
Que mensagem nos transmite este segundo livro de Dolores Marques? Ouso ver aqui uma sugestão de viagem ao interior de todos nós, viagem que se aprofunda ao longo dos três capítulos que constituem a obra, transformando-a num todo uniforme mas crescente de emoção e profundidade. No primeiro capítulo, Renascer no Silêncio, o processo introspectivo tem início e o eu lírico vai ao fundo do seu ser, do nosso ser… questiona, questiona-se, questiona-nos… Eu não sei para onde vou, afirma Dolores Marques. Porém, da sua janela aberta descobre um novo céu de poetas que podemos ser todos nós, em ecos profundos e vozes diferenciadas. O segundo capítulo, intitulado Contactos, oferece-nos o profundo desejo de correr para o outro, tocá-lo, senti-lo, abarcá-lo num abraço que não termine, serenando um pouco o alucinante mar de emoções renascidas do capítulo anterior. Tudo nos vem dos outros… Ser é pertencer a alguém…, afirma Jean-Paul Sartre. O que nos move, afinal? Serão as dores, os gestos, as meias verdades, as partilhas?... Move-nos o correr para o outro… Move-nos a facilidade com que nos damos… O último capítulo segue por Rumos Indefinidos e apresenta-nos a autora numa busca interminável de paz, de amor autêntico, de novos desafios por desvendar. Há nele como que uma dança, um ritual de busca, uma procura do inacessível mundo do encanto, do sonho, da ilusão. O mergulho é agora no abismo das certezas, no poço das esperanças… marca-se aqui o compasso de uma nova dança onde, perdidos por aí, nos encontramos sempre…
Obrigada, Dolores, por mais uma vez me confiares o prefácio. A responsabilidade cresce à medida que a tua poesia amadurece e da simples professora que fui, o orgulho que hoje tenho em ti extravasa qualquer relação docente/discente e aproxima-se do orgulho que o leitor tem nos autores onde vai beber.
Todos nós percorremos já becos sombrios. Com este teu livro, podemos seguir os sinais e tocar a luz que nos espera, encontrando assim o caminho para as subtilezas das nossas próprias almas.
Obrigada, Dolores, por mais esta partilha.
Carmo Miranda Machado
12 de Maio de 2009
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