Era quase 25 de Abril (II)

[pantera]

Ouviu uma melodia que parecia vir do fundo do corredor do rés-do-chão. Ficou imóvel. O coração quase lhe saltava pela boca.
– São eles! – pensou. Mas, na realidade, era apenas a sua imaginação.
Subiu a velha escadaria e foi para o quarto. Já tinha passado tanto tempo e Jonas ainda se lembrava de quais eram os degraus que estavam podres e dos que rangiam ao serem pisados. Ao cimo das escadas, parou. Olhou para uma porta que estava entreaberta – era o quarto de Cassandra, a sua irmã mais nova, que tinha completado o seu décimo aniversário na semana anterior.
Continuou até ao seu quarto. Olhou à volta e viu tudo na mesma; todos os posters dos seus grupos preferidos, que tinha colocado na parede aquando da adolescência, ainda lá estavam. Abriu o guarda-fatos. Estava vazio. Fechou a pesada janela de madeira, através da qual entrava uma nesga de luz vinda daquele luar ténue. Ligou o gira-discos e ouviu um disco de Zeca Afonso. Deitou-se.
– Onde estão todos? – perguntou mais uma vez a si mesmo.
Adormeceu vencido pelo cansaço e logo mergulhou nas teias de um sonho; um sonho, não, um pesadelo: a sua família estava a ser raptada pelo velho homem das barbas longas, uma personagem um tanto ou quanto estranha do Vale das Aves Loucas, que todas as noites subia à Montanha do Cume Branco e uivava como um lobo raivoso. Na aldeia diziam tratar-se de um homem-lobo, algo sem explicação.
Tentou salvar a sua família das garras daquele monstro. Correu para salvar Antonieta, a sua irmã de longos cabelos ruivos e com as faces carregadas de sardas e que se dizia ser a mais bela moça da aldeia. O homem-lobo levava toda a sua família para aquele antro húmido e frio, situado no cimo da montanha.
Lutou toda a noite, gritou e ninguém o acudiu, pois estava sozinho.
Acordou quase de manhã. Estava exausto e com a respiração ofegante.
Levantou-se e percorreu toda a casa. Estava vazia.
– Onde estão todos? – perguntou novamente.

[Goreti Dias]

Continuamos à espera ... e a gostar!
Um abraço