Quero o divórcio

[Alice Santos]

Quero o divórcio dos meus dois eus.
Não há entendimento possível
entre o eu que te ama
e o eu que precisa arrancar-te da alma.
O que te ama só pensa em ti,
o outro está sempre a dizer...
   ...faz o mesmo, esquece...
Se um lembra teu doce olhar
iluminado pela lua,
vem o outro recordar a escuridão
das noites sós.
Uma metade olha o mar
e vê teu sorriso reflectido,
a outra murmura...
   ... teus olhos são rios...
Se digo palavras de amor
transbordantes de paixão,
logo oiço...
   ... foi ilusão, por medo acabou...
E eu,
na vertigem deste amor
vivo a amargura dos dias,
verto na chuva lágrimas de saudade,
e nesta dictomia grito:
   urge divorciar-me de mim.
 
12/11/2009
Alice Santos

[Goreti Dias]

Um poema excelente! Uma luta de que se não vislumbra o fim. Quanto ao resultado, as previsões ficam no segredo dos deuses. Nem eles terão certezas!

[Alice Santos]

Se o futuro fosse fácil de ver...
Obrigada Goreti, pela leitura e comentário.
Beijo
Alice

[CAMPISTA CABRAL]

Olá Alice! Em primeiro lugar obrigado pelo comentário e pelas leituras feitas no Recanto das Letras. Também escrevo no site Crônicas Cariocas (quando puder, faça uma visita). Adorei a temática um tanto quanto pessoana! Muito bom! E quantas vezes queremos divorciarmos de nós mesmos! Muitas,decerto!

Um grande abraço e... como sempre termino, desculpe-me a falta de criatividade:
Do outro lado do Atlântico!

[josé antonio]

Olá Alice,

É sempre muito complicado vivermos com os nossos "eus". Se um fala o outro cala, se um denuncia o outro encobre, se um é radical o outro é inibido, nada melhor que ter mais que dois "eus" e não nos divorciarmos de nenhum.
Este poema, um grito saudável, bem gritado para ser bem lido, o mais possível!
Abraço
JA

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Todos os nosso "eus" são moderadores de nós mesmos. Demos graças por nossa multiplicidade na unidade. O que seria das artes, principalmente da Literatura, se não fôssemos assim tão plural me nós mesmos.
Gostei imenso do teu poema.

Um abraço do Cristo Redentor com perfume de Mata Atlântica e Amazônia e embalado ao som de Villa-Lobos.

P.S.: Encontre-me no site Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br). Tenho alguns textos publicados por lá.

Oswaldo Eurico Rodrigues.

[Alice Santos]

Campista Cabral,
foi um prazer ler textos tão bons no Recanto das Letas. Obrigada pelas leituras atentas que tem feito aos meus versos.

José António,
obrigada pelo elogio ao meu poema gritado.

Oswaldo Eurico Rodrigues,
Muito obrigada pelo tempo que perdeu a ler um poema meu e pelo comentário. Sobretudo obrigada pelo cheirinho e música. Voltarei ao Recanto das Letras com muito gosto.

Aos três muito obrigada pelos comentários, diferentes mas todos tão assertivos.
Deixo-vos uma música.

<a href="http://www.youtube.com/v/UZkEYK4WKKg&rel=1" target="_blank">http://www.youtube.com/v/UZkEYK4WKKg&rel=1</a>

Um grande abraço.
Alice Santos

[vilde]

Alice, achei interessante este  pretenso divórcio entre os seus dois "eus"
Esta ambivalência lutadora e bem escrita, donde sobressai a sensatez, embora em lágrimas de decisão...
Bj
Vilde

[Karla Bardanza]

Essa dualidade do eu sempre existirá.O divórcio é quase impossível.O poema,no entanto, é divino.

Beijo

Karla Bardanza

[Alice Santos]

Vilde,
a vida é assim mesmo, não é? Há decisões povoadas de lágrimas constantemente.
Obrigada pela leitura e comentário.
Beijo

Karla,
muito obrigada pela atenta leitura e comentário tão generoso.
Beijo

Alice Santos

[Vóny Ferreira]

Que maravilha de poema.
Fascinante,
belo.
Identifiquei-me em absoluto
com o mesmo.
Beijo
Vóny Ferreira

[Alice Santos]

Vóny,
muito obrigada. Há dias em que o que apetece nem é o divórcio é mesmo desaparecer.
Beijo
Alice Santos

[poesiadeneno]

Alice,

Todos juntos formam um EU maior,ou seja,um Eu, mais Eu.

Não estou a fazer um mero jogo de palavras.

Apreciei.


Bj

[Alice Santos]

Poesiadeneno,
muito obrigada pela leitura atenta e pelo seu comentário. É bem verdade. É um eu bem maior.
Alice Santos

[carlossoares]

Voltei a este poema para explicitar um pouco o quanto aprecio esta "conflitualidade", ou aparente incompatibilidade, de "eus". As diversas instâncias da nossa mente convivem de forma nem sempre pacífica, nem sempre harmoniosa,nem sempre fácil, mas a libertação é um exercício consciente de concertação dos diferendos e de opções que têm sempre custos de oportunidade. Quanto ao divórcio, pode ser uma solução, rss, rss.
Muito interessante o seu poema.
Abraço.

[Alfredo D]

É engraçada a ideia de algém se desquitar de si próprio como se o mundo acabasse de repente sem deus ter permitido o sonho realizado.Eu como deus que sinto que posso ser, digo: o sonho não se faz real se o humano se separa da ideia de deus e de si que também pode ser deus em sua graça.

[Alice Santos]

Carlossoares,
Um comentário muito interessante. Falamos em divórcio mas sabemos que não podemos pedir tal a nós próprios. No fundo, talvez nem queiramos isso. O que queremos mesmo é viver em paz. Se bem que um conflito uma vez por outra...



Alfredo D,
eu deixo Deus fora destas questões. Prefiro pensar só no conflito entre os vários "eus" que todos nós temos, pelo menos uma vez na vida.


Abraço aos dois,
Alice Santos