Cansado

[carlossoares]

Cansado




Neste acesso de febre alta
Esqueço tudo em delírio
O mundo que tão pouco conheci
E de cujas guerras e dramas desisti
Que sempre ignorei de soslaio
E até o que
Do mundo sempre elegi
Do passado os mitos e os heróis
Modelos que nos humilham aos nossos olhos
Mas que pretensamente
Nos engrandecem aos olhos estrangeiros
Do presente as vacuidades
Mais benévolas possíveis
De preferência aromáticas
E afrodisíacas
E laxantes
Que inebriem sem as sequelas
Das drogas
O que penso (e o que
Não sei se) me importa
Não sei qual é pior
Se o cansaço do que não faço
Se estar cansado
De estar cansado
Ou se
Estar cansado de descanso
Cansado de remanso
Da monotonia da beleza
E serenidade
Da natureza
De ouvir (já nem ouço)
Os pássaros
De olhar (já nem olho)
Para o céu estrelado…
Do bem que me fazem
 E da saúde que tenho
Me cansa o prazer
De tudo bom ter
Me cansa não sentir até
Necessidade de o dizer.

[Goreti Dias]

Este mundo, a sua disparidade e as suas antíteses! Parece que andamos todos cansados até de estar cansados. Mas há os cansados de sofrer, de esperar melhores dias e desesperados por ver uma "luz ao fundo do túnel"...
Beijo

[carlossoares]

Goreti
e
Domingos,

marchemos, desde que não arregimentemos! :

Obrigado pelos comentários.
Abraços

[carlossoares]

A tropa também pode cansar
Para muita gente é uma profissão.

[vilde]

"Estar aqui dói-me
e eu estou aqui há mais de 400 anos"

Carlos, foi a frase que me veio à ideia quando li o seu poema.
Este cansaço do "dejá vu", das  rotinas, da falta de novidade.

Mas, há que não nos deixarmos arrastar por essa corrente turva,
conseguir abrir os olhos e valorizar a cor dentro de nós.
Gostei do poema!
Bj
vilde

[carlossoares]

Vilde,

obrigado pela leitura e pelo comentário. O que é preciso é (ter a capacidade para) recarregar baterias e recomeçar de novo.
Abraço.