Vitor da rocha
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« em: Julho 30, 2010, 13:16:51 » |
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LENÇO DE PAPEL 3
Ele abriu, então, a porta e sentou-se ao volante a afagar o vinil como se fosse o umbigo e púbis da sua mulher. Entrementes, era o olho fraco do gerente do stand que afagava o aileron da mulher. Disfarçadamente. Como se o preço fosse alto e não quisesse mostrar desejo por aquilo que não se pode ter. O membro macho do casal olhou para o lado, mantendo as mãos sobre o volante e os braços esticados, a apreciar o habitáculo, imaginando a figura que ela faria ali, junto a ele, troféu de caça raro, caÃdo na ratoeira desportiva. Para confirmar se os outros caçadores ficariam com inveja. Pelo troféu. Pela ratoeira. Depois, virou os faróis para a frente, vendo já a estrada a correr sob os pneus. As riscas centrais, tracejadas, a fugirem pelas virilhas da viatura, na aventureira ultrapassagem. Olhou para o espelho retrovisor, para aquilatar se era um bom detector de inimigos atrás. Depois, a vista pousou no espelho do lado de fora da janela, medindo o ângulo com que o inimigo seria visto, na pretendida ultrapassagem sobre si. Saiu. Suspirou. Parecia meio rendido. A mulher rondava. E olhava-o, querendo perceber a maré em que ele nadava após a breve sessão de pilotagem virtual. Agora, era preciso saber o bilhete de identidade da máquina. A quilometragem, que ele tinha visto, quando sentado ao volante, seria real? Sim, sim, respondeu-lhe Gustavo, é que o carro pertenceu a uma professora à beira da reforma que só o levava para as aulas, numa escola, a bem dizer, dentro do seu jardim, tão próxima de casa era. No restante percurso da vida, seguia guiada pelo marido, no carro dele. A professora dizia que não gostava de conduzir. Metia-lhe medo. Mas um carro destes, com look desportivo, nas mãos duma senhora pré-reformada? Pois é verdade, o marido é que gostava deste tipo de carros. Mas quase não tinha tempo para picar os cavalos. Dono duma loja de roupas, sabe? Fechava tarde, de segunda a sexta, e ao sábado ainda derramava o dia na loja, pois até era o dia de maior movimento. Ao domingo, queria chinelos e descanso. E com a idade também já se temia que os cavalos lhe fugissem. Mas então o gosto por um carro desportivo porquê? Tem razão, senhor, mas o que é que lhe havemos de fazer? Cada pessoa tem as suas manias. O marido dessa professora tinha sido piloto de ralis, amador, claro, em idade mais jovem, quando o cabelo negrejava e parecia um relvado bem cuidado, e, por isso, guardava ainda o gosto das máquina desportivas, sem perder o gosto das acelerações, da gasolina queimada violentamente. Memórias, sabe? Além disso, se uma pessoa dispõe de dinheiro, sempre pode dar-se a esses luxos, não acha? De resto, onde o homem se sentia bem era dentro do seu Mercedes, mais consentâneo com a sua idade. Ao fim e ao cabo, um carro é como uma mulher, fica bem na mãos adequadas, não acha? Isto com licença da senhora, que não é para ofender, mas muita gente diz isto, que uma mulher e carro bonitos enchem a vida dum homem de felicidade
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