Tino Saganho
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« em: Abril 20, 2009, 21:13:21 » |
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Mosca na SanduÃche.
Justino Larilas era um homem de meia idade. Solteiro e sem famÃlia, tinha como única companhia uma gata. A cozinha de sua casa estava sempre infestada de moscas, consequência do estrume que usava no quintal por altura das sementeiras. Cansado dessa imundÃcie, o Justino resolveu montar uma segunda porta, com rede contra insectos, de acesso ao quintal. A medida foi, em primeira análise, eficiente. Abria a primeira porta para receber a claridade do dia e mantinha a de rede fechada. As moscas concentravam-se no exterior, agarradas à rede, mas não conseguiam entrar. - Agora é que eu vos cozi... moscas asquerosas de um raio – dizia ele, ao mesmo tempo que gargalhava de alegria. A cozinha passou a ser um lugar higiénico. Entretanto chegou o Verão e, numa tarde escaldante de Agosto o Justino, ao entrar na cozinha, reparou que uma grande vareja se escapou para o seu interior. Ficou cego de raiva! Barafustou, praguejou e soltou um chorrilho de palavrões...Encetou de imediato uma perseguição sem tréguas, qual gato atrás do rato, para lhe fazer o funeral, mas ela escapava – lhe sempre e até parecia desafiá-lo... De vez em quando ensaiava um voo a rasar – lhe a cabeça e o Larilas resmungava e bracejava para a sacudir. De uma vez poisou – lhe na testa e ele sacudiu com tal intensidade... que descolou a sua cabeleira postiça, projectando – a para dentro da panela da sopa. Maldita mosca ! – Hei - de matar – te e comer - te dentro de uma sanduÃche – praguejava ele completamente irado. A vareja parecia um diabo à solta!... Agitava as asas e lá voava para mais um ataque. A tal gata, companheira do Solteirão, assistia à cena de olhos arregalados e orelhas afitadas. Olhava o dono e parecia interrogar: - Precisas de ajuda? E passou mesmo da intenção ao acto; subiu ao armário e lançou-se em voo, qual guarda – redes, para apanhar o referido insecto. Mas o cálculo falhou e ela caiu sobre um castelo de copos e a cozinha ficou atapetada a vidro. A bichana, tolhida de medo, mijou e cagou por todo o lado; correu para a casa de banho e foi esconder-se dentro da sanita. O solteirão Larilas deitou as mãos à cabeça e gritou mais pragas e palavrões, desta vez também para o felino animal. Ao fazer mais uma investida, o homem escorregou no chichi da gata, caiu e borrou a cara na sua trampa. Aos vómitos, correu para a sanita, mas estava lá a bichana escondida que, ao sentir-se vomitada, passou as suas garras pela face do dono. (Isto é que é azar! Depois disto, o Justino olhou a vareja, pensativo, durante alguns segundos; deitou então mão a uma toalha e, aà vai disto... Batia em todos os cantos e esquinas da divisão. A deslocação de ar era tal, que a cozinha mais parecia estar sobre o efeito de um vendaval. A vareja andava de canto em canto e, por fim, estatelou-se contra a parede. Não morreu, mas partiu as patas, as asas e os dentes, e ficou paraplégica, (Será que agora as moscas têm dentes? rs rs rs) O Sr. Larilas, convencido que tinha feito o funeral à vareja, respirou fundo, limpou o suor que caÃa em fio da face e foi preparar um lanche. - Custou, mas bem te cozi!... – desabafava ele enquanto dava a primeira dentada na sanduÃche. Ao sentir um sabor amargo, abriu – a e reparou que a maldita se tinha alojado entre o queijo e o fiambre. Sentiu então que tinha cumprido a promessa. Comeu-a!
Tino Saganho
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