http://www.youtube.com/v/OY8-pNuYZeE&rel=1Elliot Smith é mais um exemplo, de um rol de músicos que se refugiam na sua arte, tentando ingloriamente fugir a todas as pressões exteriores ao quarto onde compunha e gravava os seus temas, no seu gravador de quatro pistas. Graças ao tema “Miss Misery”, do seu terceiro trabalho “Either/Or” (1997) que Gus Van Sant inclui (mais outras cinco canções) na banda sonora de “O Bom Rebelde”, salta para a ribalta e foge do anonimato, valendo-lhe a nomeação de Canção do Ano na cerimónia de entrega dos Óscares desse ano. Os seus três primeiros trabalhos – “Roman Candle” (1994), “Elliot Smith” (1995), “Either/Or” (1997) – são classificados como lo-fi. A sua voz sussurrada e a sua guitarra melodiosa, formam o casamento perfeito. Em 1998, Elliot assina pela Dreamworks e edita o seu álbum “Xo”, um trabalho carregado de elogios por parte da crítica especializada. Dois anos decorridos nasce “Figure 8” (gravado em Abbey Road, corroborando a influência dos Beatles nas suas composições. A primeira vez que ouviu o “Álbum Branco” dos Fab Four, tinha cinco anos), que o consagra definitivamente como um dos mais respeitáveis escritores de canções norte-americanos.
A sua música, que vai do punk ao folk, não é de assimilar e gostar à primeira audição. Pacientemente, vai-se aprendendo a gostar. E, se começar a gostar é dar um grande passo, amar não será um passo maior. Alguém escreveu sobre a audição da sua música que, “para mergulhar nestas águas, é preciso entrar de corpo inteiro, com os sentidos e a sensibilidade aguçada”. E aí, depois do mergulho, o auditor embrenha-se nestas águas até ficar com a pele enrugada. Smith consegue fazer milagres com a sua voz e com o seu violão/guitarra.
As suas letras são introspectivas. Expressam solidão, tristeza, melancolia, raiva e rancor. Elliot Smith também teve as suas pelejas com o álcool e com as drogas. Parecia transmitir serenidade e paz nas suas composições, mas no seu interior havia uma guerra perene, que culminou com a sua morte a 21 de Outubro de 2003. Tudo indica que o suicídio foi a sua causa de morte (quantos músicos não viram como único escape àquilo que os corroía por dentro, a morte? Kurt Cobain…). Contudo, as letras dos seus últimos discos transmitiam mais optimismo. O próprio Elliot Smith disse que prefere escrever, “pequenos filmes abstractos”.
“Eu tornei-me um filme mudo
O herói matou o palhaço
Não consigo fazer nenhum som (…)
A câmara lenta move-me
O monólogo não faz sentido para mim”
(Can´t make a sound – “Figure 8”)
O menino que nasceu no Nebraska e que começou a gravar as suas canções aos 14 anos, deixou-nos obras inolvidáveis. Obras que merecem um destaque na prateleira de um bom apreciador de melodias e guitarras.
Onde quer que esteja, Elliot Smith arranjará certamente um refúgio só seu para compor as suas músicas. Porque é na solidão que se faz a melhor arte.
Nota: Este texto já foi escrito em 2003 - supostamente para uma revista de música-e que descobri no meu "baú". Quis partilha-lo com vocês. É uma espécie de homenagem a um grande compositor. Quem não conhece, sempre fica aqui a sugestão.
2005