gdec2001
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« em: Janeiro 03, 2014, 23:30:24 » |
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E sempre, sempre os problemas... Eram tempos terrÃveis, esses, mas o Tejo estava, então, bem animado. Deves perguntar, querido José, como é que eu sei estas coisas todas. Pois porque sou uma grande apaixonada de Lisboa e do Tejo e leio tudo quanto me cai nas mãos sobre estes belÃssimos lugares. Mas do que gosto realmente mais, é de sonhar olhando para a água do rio. A ÃGUA, sabes, é a coisa mais importante que há para a vida. DevÃamos escrever sempre com letra grande toda a palavrinha, porque todos os seres vivos são compostos, essencialmente, por água como sabe toda a gente. Bom.. pelo menos a maior parte... Ali, no rio, se olhares distraÃdamente, tudo te parece sempre igual e, no entanto, tudo muda, continuamente. São as formas e são as cores, porque a água move-se sempre e sempre muda de forma, ora correndo, apenas levemente ondulada, ora enrolando-se em ondas enormes que, por vezes - embora não aqui, - são tão belas como terrÃveis. E as cores, que, como sabes - como virás a saber - são o Sol decomposto pela reflexão, mudam sempre, porque o Sol sempre é reflectido de maneira diferente . Isto, é claro, para não falar, com mais precisão, na radiação electromagnética coisa que eu própria não entendo bem e por isso seria muito complicada para ti. Não?! E então, se reparares bem, vês ali todas as cores de todos os arcos Ãris porque, também, cada arco Ãris, é diferente dos outros e o mais diferente de todos é aquele que nasce do lado do sonho, percebeste? Parece-me que sim. É que, sonhar, também faz parte da vida. Não pertence a outro mundo, não.
O sol perto da lua
A Adélia continuou a frequentar, nos Sábados, o local ajardinado, que ficava perto do jardim-escola onde andava a Elsa, e levava, então, o José. Deixou de se esconder quando descobriu que a menina já a não reconhecia. Ela vinha até junto das grades do jardim da sua escolinha e ficava ali a conversar com aquela senhora simpática e com o menino que vinha com ela. Estavam, um dia, naquela conversa, quando apareceu o pai da menina que cumprimentou a Adélia, muito amavelmente e se mostrou muito satisfeito por saber que ela tinha um filho. Estava-lhe “eternamente gratoâ€, disse, pelo cuidado com que tinha cuidado da Elsa durante “o perÃodo de loucura da sua mulherâ€. E insistiu porque os visitassem em sua casa: ela, o marido e o filhinho. A Adélia tinha um certo receio da reacção da mãe da Elsa, mas gostava muito da menina e o seu maior desejo era poder estreitar as suas relações. Falou com o Mário e também este gostava muito da miúda de maneira que aceitou: Não faz mal experimentarmos, disse.
Tudo correu bem, apesar da OlÃvia estar um pouco fria, no princÃpio da visita. Acabou, porém por ficar mais amável reconhecendo, também, que fora uma sorte que a Elsa tivesse ficado com eles, naquele tempo difÃcil que haviam atravessado. Estabeleceu-se, assim, uma relação cordial entre os dois casais e a Elsa e o José tornaram-se muito amigos. Como irmãos, diziam os pais. Era rara a semana em que não passavam pelo menos um dia juntos ora numa das casas, ora na outra. A Elsa tem, agora, cinco anos de idade e o José quase três anos. A Elsa trata o José como uma pequena mamã. Corrige-o, docemente, quando ele pronuncia mal uma palavra e ensina-o a comer com garfo e faca. Leva-o pela mão quando passeiam na cidade e ensina-o a atravessar as ruas, nas passadeiras. A Adélia só os deixa brincar, desta maneira, nos locais em que não há movimento algum, é claro, e, mesmo assim, segue-os, de perto e vigia-os discretamente mas, na verdade, a garota parece uma pessoa adulta, das que têm juÃzo. Não se entendem lá muito bem, é nas brincadeiras das construções. Enquanto ela gosta de construir, ele gosta do contrário: Desmanchar. Encanta-se com as coizinhas que encontra dentro das coisas: Rodinhas, em especial aquelas que têm dentes e picam nos dedos, borrachinhas e uma enorme quantidade de outros objectozinhos que a gente nem sabe bem o que são mas que são muito engraçados. A Elsa ainda sente, também, o impulso de destruir, mas reprime-o porque foi ensinada que os brinquedos são para brincar, inteiros - ensinamento que eu não acho, que tenha sido , completamente , bom... Assim, constrói casas, barcos, carros e aviões e gostava de ensinar o José a fazer o mesmo. Mas ele não quer e, se pode, desmancha as casas, os barcos, os carros e os aviões que ela construiu. Que raiva!. Às vezes apetece-lhe bater-lhe com força mas, realmente, não é capaz. Finge apenas que lhe bate porque ele é pequenino, não é verdade? E muito bonito... A OlÃvia tornou-se uma grande amiga da Adélia. É uma mulher fraca e muito impulsiva. Capaz de algumas topadas no comportamento mas também de grandes gestos. Quando se sentiu mais à vontade com a Adélia, disse-lhe que andava “atabafada†com o facto de não ter ainda dito toda a verdade, sobre a razão pela qual deixara a Elsa na “Infância Felizâ€. Que gostaria de lhe contar mas ela precisava de lhe prometer que não contaria nada a ninguém. A Adélia disse-lhe que não necessitava saber mais nada do que o que sabia, mas que se a OlÃvia precisava contar, podia fazê-lo e, é claro, que ela não contaria nada pois era assim que a OlÃvia queria . E a OlÃvia contou:
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