Nação Valente
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outono
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« em: Fevereiro 12, 2023, 00:19:17 » |
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Viajantes do tempo (Diálogos improváveis)
A nave, vinda dos confins do espaço, pousou junto a uma massa de água, ao lado de uma ponte para a outra margem. A primeira impressão dos seus ocupantes, foi a de que estavam perante um povo nas antÃpodas do progresso. Com capacidade para se adaptar à forma dos seres que por ali andavam a chafurdar em cima de uma lixeira, assumiram o mesmo aspecto, e embora tivessem capacidade para ler mentes, entabularam diálogo. - Boa tarde. Podem não acreditar mas somos viajantes do espaço. Podemos assumir várias formas. Um de nós vai mostrar-se, e vão vê-lo por uns segundos para acreditarem no que dizemos. Somos pacÃficos e não vos queremos assustar. Apenas observamos e estudamos os outros povos do universo. Mas o que nos fez parar aqui foi a discussão sobre a construção de um Altar-palco.
Os seres que ganhavam a vida naquele local ficaram estarrecidos. Um responsável pelos trabalhos conseguiu perguntar? - Mas onde está o vosso transporte? - Oculto aos vossos olhos. Mas para mostrar credibilidade, vão vê-lo por uns segundos. Os trabalhadores da lixeira viram, aparvalhados, um objecto que nunca tinham visto, nem na mais avançada ficção cientÃfica. -Apercebemo-nos da discussão sobre o tamanho do palco, e do que chamam pala. Ora do sÃtio de onde viemos já não existem essas construções. O que gerou a discussão foi o preço. Gostamos de coisas grandes como esta ponte. Ponte? pensou o visitante. Do sÃtio de onde venho isso é pré-história. - Grandes porquê? perguntou - Valorizamos o tamanho. Assim queremos um grande evento, um grande palco, com uma grande pala. Já foi assjm na "Expo" - Percebi a intenção, mas qual é a vantagem? - É a glória desta nação. - Glória para que serve? Perguntou o visitante, lembrando-se que de onde vinha, era um conceito do passado. - Ora essa, respondeu o interlocutor. Temos de alimentar o orgulho. Já viu como ficávamos com um palco pequeno? Não pode ser. Temos de construir uma “palonaâ€. Nunca ouviu a frase, “olha que a minha é maior que a tuaâ€? Tal e qual como nas “pilas†- Nas pilas? O que é isso? - Tem sentido de humor. Não me queira fazer crer que não sabe com é que se fazem os meninos. “quem faz um filho “falo†por gosto. “Truca-trucaâ€. O Visitante embatucou. Do sÃtio de onde vinha a preservação da espécie já não passava por esse acto primário, impulsionado pelo prazer fÃsico. No seu mundo o prazer estava concentrado na mente. Percebeu que o interlocutor não ia perceber. Mudou de assunto. - Percebi a intenção, mas porque é que o assunto precisa de ser tema central na comunicação? - Nós temos que ter sempre um tema que nos desvie do que é essencial. Assim evitamos depressões. Casos, casinhos, casões. Não se aperceberam? Enquanto o povinho, se entretém com não assuntos, os donos de isto tudo, vão medrando à nossa custa. No meu planeta, pensou o homem, essa prática faz parte dos anais. Aqui estou a vivê-la ao vivo. Espantoso. -Enquanto discutimos tamanhos – continuou o interlocutor – derrapagens disto e daquilo, bloqueios de progressos, julgamentos populares de governantes, temos o povo entretido, e esquecido da sua exploração. Quem ganha? As televisões ganham audiências. São uma espécie de circo, onde pululam equilibristas, trapezistas, e outros†istasâ€, sem esquecer os palhaços. O povo adormece à conta de lengas-lengas - Percebi. Já passamos por isso na nossa pré-história tecnológica, mas evoluÃmos para patamares mais avançados. Se isso serve de algum conforto há muitas civilizações como vocês. O que intuÃmos é que umas vão no sentido em que estamos, e esta parece em ir em sentido contrário, isto é, na via para a destruição. Muita ganância, muito mais ignorância, e como disse um vosso pensador, num patamar mais avançado, muita, muita estupidez. Guerras por tudo e por nada, como esta do palco. - E senhores viajantes sem vez de nos criticarem nos ajudassem? - Não podemos alterar a vossa evolução. Livre arbÃtrio. Deixo uma mensagem: enquanto tiverem, como lhe chamam, a “pila†na cabeça, o cérebro não ganha espaço, nem evolui. Eis a razão. Os viajantes do espaço eclipsaram-se deixando uma sensação de calor e luz. Abri os olhos. O sol da manhã entrava pela janela, Mas que sonho estranho! Ou seria um pesadelo?
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