Pedro Ventura
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« em: Agosto 14, 2008, 15:25:16 » |
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A.S.Wallace encontrava-se enclausurado há cinco anos numa prisão de alta segurança. Por detrás daquelas altas paredes de betão, envolvidas em arame farpado, encontravam-se os mais temÃveis criminosos. Assaltantes de carros de cachorros quentes, ladrões de flores, violadores de tartarugas, penduras de transportes públicos, falsos pedintes, enfim, um rol de gentalha do piorio. Por ter roubado duas latas de cerveja, uma torta de chocolate, umas meias de vidro e um verniz para oferecer à mulher, num hipermercado à beira da estrada, o presidiário número 3038, A.S.Wallace, ia ser condenado à morte. Por ser alérgico à corda – ficava todo empolado cada vez que tinha contacto com qualquer casta de matéria filamentosa – por ter pavor à s agulhas – a injecção letal por via intravenosa estava fora de questão; desmaiava sempre que via uma agulha dirigir-se a si – preferiu a execução da pena por cadeira eléctrica, desde que não abusassem na voltagem, podia-se sentir mal, pensava. Passados cinco anos atrás das grades, eis que chega o dia do veredicto final. Foram-no buscar à s dez horas da manhã à sua cela – já tinha desfeito a barba e puxado as orelhas aos lençóis–, que estava mobilada como se de uma casa se tratasse. Televisão, microondas, frigorifico, aparelhagem, aquecimento central, sofás para receber as visitas, até tinha um barbecue. Ao passar pelos corredores semi-obscuros, de mãos dadas com dois guardas prisionais com a fisionomia do Estica (o companheiro do Bucha), os amigos que ia deixar, gritavam-lhe, agarrados aos ferros: - Já lá vais?! Que sorte a tua! - Não te esqueças que me ficaste a dever dois maços de cigarros. - Depois conta-me como foi. - Posso ficar com a tua televisão? - Depois mandamos-te as tuas coisas. Passa o derradeiro corredor, branco e frio, tal neve em Inverno rigoroso, e entra na câmara onde a cadeira eléctrica se encontrava. Feia como a morte. - Cheira a unhas e cabelo queimado – diz a um dos guardas. – Tenho sorte em ser careca. Ia ser um desgosto ficar com o cabelo carbonizado. Entretanto, enquanto imobilizam A.S.Wallace à cadeira e lhe colocam os eléctrodos pelo corpo, chega o director da prisão, de bermudas, sandálias e camisa Havaiana. A contrastar, um ar sisudo. O padre não estava presente porque tinha uma reunião de condómino. Primeiramente, A.S.Wallace manteve-se sereno, como um praticante de yoga, mas passados dez minutos, o tempo que demorou os preparativos, começou a ficar irrequieto. - Está tudo pronto? – pergunta o director aos guardas. - Sim, Sr. Director – exclamam os guardas em unÃssono. - A.S.Wallace, de acordo com a lei, tem o direito a um último desejo. – informa o director, enquanto puxa fogo a um charuto cubano. – Não se importa que fume, pois não? - Assim como assim isto vai ficar cheio de fumo – responde o condenado. - Então diga-me lá, tem algum desejo? - Tenho sim, Sr. Director. - Diga lá então. - E é cumprido, esse meu último desejo? - Se não fosse não lhe perguntávamos. - Será que não era capaz de me arranjar uma cadeira mais confortável? Esta não é nada boa para a coluna. Não é nada ergonómica... - O seu desejo é uma ordem. Soltem o homem – ordenou aos guardas. – Peçam um catálogo de cadeiras italianas e mandem vir uma estofada a pele. - Obrigado pela atenção, Sr. Director. - Não tem de agradecer. A.S.Wallace esteve preso ainda mais cinco anos. Foi o tempo da cadeira chegar. Morreu confortavelmente.
2007
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