Sai do obscuro

[carlossoares]

Saí da folha de papel
Imaculada
Alma sem corpo
Névoa alada
Fogo branco
Em grandes línguas
Escaldantes
Devorei claustros
Frios
E enchi-me
De potestade
Do vazio
Onde são meus
De mais ninguém
Os horizontes
Dos dias
Soprei sem vento
E assobio
Murmurei fontes
Ciciei cio
Como um anjo
Ou apenas a sombra
De um insecto
Caí sedento
Num saco
Com a noite dentro
E as estrelas fora
Que tem um buraco
Para ir embora.

[Goreti Dias]

Estrelas por fora de um saco? Com um buraco... Quem se lembraria de sair assim da folha de papel?!

[Carla Ribeiro]

"Devorei claustros
Frios
E enchi-me
De potestade"

Simplesmente sublime, esta parte. Como todo o poema, aliás...

[carlossoares]

Goreti
e
Carla,

tanto ou mais do que pelo gozo de ter escrito o poema valeu a pena pela satisfação que me dá ler os vossos comentários e partilhar convosco estes nadas a que damos importância, por vezes muita.

Beijos.