marcopintoc
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« em: Julho 02, 2009, 22:22:19 » |
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Quis encontrar a salvação nos trilhos de Santiago . Equipei-me de um GPS de redenção e , incauto escuteiro , escolhi calçado que me plantou bolhas de mártir nas plantas dos pés. As minhas orações matinais foram proferidas com ausência de higiene oral, um bafiento mau hálito de rezas lenga-lenga do “Manual do Peregrino V2.0 “ incluÃdo de série no meu PDA baptizado na santa água da Fonte da FerrerÃa .O cantil de metal , reutilizável , não hostil ao ambiente , embatia-me na perna e senti vontade de cantar “Ave Maria “ mas como desconhecia a letra optei por cânticos insultuosos que aprendera no topo sul do grande estádio onde a profecia se concretizava nos pés mágicos de um extremo-esquerdo de nome Messias Baiano.
No meio do campo florido que tantas vezes invejara em “blog†alheio não senti a paz e no céu nem a mais pequena cintilação de qualquer coisa de milagroso. Havia algo que não estava a funcionar. Deus tinha-se esquecido de mim ou , se calhar , a minha alma tinha embrutecido de tal forma que a fé estava esquecida , uma cegueira que tinha crescido ao longo dos anos impedindo qualquer vislumbre da obra do Criador . Os meus passos no trilho do santo começaram a afrouxar lá pelos lados de Pontevedra. As últimas réstias de oração foram proferidas ao balcão de um bar onde o pecado prevalecia. A voz ecoava baixinho, por entre os risos dos ébrios e o chamariz das mulheres da vida. Na mesa escura, ao fundo da sala, quatro sacerdotes batiam com ruÃdo as escrituras da manilha.
Volvi rápido a Vigo e parti em outra quimera, desta vez menos sagrada, rumo a terras menos santas onde cabeças e boinas rodam à tua entrada no bar. Procurar os homens que podem misturar a pólvora e o detonador com a serenidade com que os anjos arrastam as almas deste mundo, eles , os homens da guerra sem Carter, os artesões do caos .Penitencio-me na visão das bombas tecidas no lento ciciar do povo basco, lento ódio que acasala com o meu desejo profano de fazer rebentar este mundo. Ajoelho-me enquanto acaricio com perfÃdia o detonador.
Percorri os caminhos de Santiago e nada encontrei, tive tão longe como sempre do meu âmago e de ti , deus . Contundo, ironia fundamentalista, aqui , nesta garagem recôndita onde as minhas mãos manipulam com cuidado religioso o nitrato de amónio ,sinto a luz invadir as masmorras da minha devoção .A justiça divina deflagrará pelas dezassete horas.
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