Fábio Videira Santos
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« em: Outubro 26, 2008, 20:27:33 » |
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Nunca sei como começar o que escrevo, não por não ter nada para dizer ou por me faltarem ideias ou ter bloqueios na escrita. Simplesmente porque aflige-me não conseguir impor a melodia que as palavras anseiam exprimir. Só por isso. Como agora se passa: apenas me apetece escrever, só escrever, divagar, no entanto gosto sempre de, por uma vez, voltar a ler o que escrevi e verificar que as pausas, os silêncios, os dó ré mi fá só lá si dó gramaticais e semânticos estão lá, de maneira que tento marcar o texto de música harmoniosa, sabendo que a melhor parte de cada leitura são os cinco segundos de profundo silêncio, vazio após o fim. São nesses breves segundos que se guardam as notas musicais das letras e palavras e frases, e assim o texto fica para a posteridade, para a eternidade, gravado no nosso corpo e mente. Porém jamais sei se o que estou a compor fica latente nos tÃmpanos das pessoas, aprecio muito mais a corrente de emoções que me perpassa enquanto deixo o meu braço dançar pela folha branca, ao mesmo tempo que a derramação sincronizada da tinta de cor azul arranha a sua superfÃcie imaculada. Escrevo sempre em papel, sempre. Dá-me prazer desenhar as letras, sou como o pintor que pinta, o escultor que molda, o trolha que constrói, ainda que a caligrafia seja má, o que consequentemente faz perder o valor estético das linhas e curvas azuis do papel. Contudo, o prazer e excitação ficam imprimidos e isso, para meu agrado, ninguém mo pode tirar. Todos nós somos muitos. O nome que temos apenas nos identifica, não nos define. Nomes temos muitos e variados, tão pobre é aquele por que somos conhecidos. De cada vez que me questionam: - Como te chamas? ou - Que nome é o teu? Fico a pensar, aturdido mesmo pela complexidade da questão, permaneço estacado, que hei-de responder a esta gente. Normalmente digo aquele pobre que carrego, outras vezes, em que a coragem me assoma: - Sei lá! Que quer que lhe diga, eu sou tantos! Prendem-se nos meus olhos, que quererá ele dizer, à s vezes fixo o olhar também nesses mirones tentando visualizar pelas janelas das suas almas que nomes os definem e nada encontro. Acabo muitas vezes suspirando: - Conheço o nome que me deram, não conheço o nome que tenho. Agora que o meu quotidiano está a mudar, apercebo-me de todos os meus nomes, de todas essas novas pessoas que juntas me definem a mim. Eu sou elas. Se quiserem saber quem sou procurem o Fábio, João, CecÃlia, Gonçalo, Catarina, Eduardo Joana, Cláudia, Pedro, André, Tiago, Rui, Marta, Margarida, LuÃs, Bruno, Diogo, David, Rita, Mafalda, Filipa e quando os conhecerem a todos, conhecer-me-ão a mim. Estes são todos os meus nomes. Os meus. E acabo sempre a escrever com o peso dessa gente toda, dando-lhes voz, não as querendo desiludir, e por isso nunca sei quando acabar, talvez agora pois é altura de dar espaço aos cinco segundos de silêncio. Fim.
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escrito em Outubro de 2007
(É com enorme prazer que faço agora parte desta dinâmica comunidade literária. Já há cerca de um mês que venho aqui "espiar" o que de muito bom aqui se escreve. Este texto serve como uma vaga apresentação, o tempo e os textos autobiográficos servirão de guia para me conhecerem um pouco melhor. Entretanto, vou começar por publicar os textos mais antigos, para não ficarem abandonados nas minhas gavetas. Resta-me cumprimentar todos os colegas e desde já pedir desculpas se a minha disponibilidade, cada vez menor, não me permitir ter a devida atenção para com este lugar.)
Os meus cumprimentos.
Fábio Videira Santos
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