Quando fui menina fui vaidosa.

[22segundos]

Quando fui menina fui vaidosa.

Quando fui menina fui vaidosa.

Pendurei cerejas nas orelhas,
para a fronte enaltecer.
Esmaguei amoras vermelhas,
p'ra com o suco enrubescer.
Mordi os lábios com vigor,
p'ra se avermelharem sozinhos.
Nos braços enleei ervas e flores,
tirando pulseiras aos caminhos.
Com arte os cabelos salpiquei,
de mil e uma bravias mimosas.
Nas pernas o casaco embrulhei,
p'ra envergar saias vistosas.
P'ra sentir como é ter saltos,
subi à ponta dos dedos dos pés.
Beijei-te em sonhos e sobressaltos,
larguei-me ao ritmo das marés.
E acomodei-me à beira-rio,
com a intenção de te esperar,
e aguardei horas a fio,
crendo que me vinhas buscar.

E depois anoiteceu,
sobre as faces primorosas.
E o vento recolheu,
dos cabelos as mimosas.
E depois arrefeceu,
E o casaco vesti,
E a fome apareceu,
e as cerejas comi.

E senti-me nua e feia,
E experimentei a solidão,
Implorei ao infinito,
Que te me trouxesse p'la mão.

E hoje que sei que foste tu,
porque esperei à beira-rio,
porque desesperei docemente,
porque tiritei de frio,
dou por mim a desejar,
estar à tua frente nua,
e que só assim me queiras,
e que assim me faças tua.
Dou por mim incomodada,
se algo deixar em mim,
quero que me queiras desarranjada,
pálida, natural, fragilizada,
e preciso que me ames assim.

Quando fui menina fui vaidosa.

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[Goreti Dias]

Em adulta, vaidosa da nudez dos sentimentos e da alma!
Um bonito poema!
bjs

[22segundos]

Em adulta, vaidosa da nudez dos sentimentos e da alma!

Agora o poema está completo. Acabado de ser escrito - acabado de ser reescrito. Um abraço!

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Caro Gilberto:

Muito obrigado por me ler, por me apreciar e por o partilhar comigo. Sim, de vaidosos temos todos um pouco.
Um abraço,

22segundos. 

[Dionísio Dinis]

Não me dou em rimas, mas este seu poema é singelamente ternurento, sinto-o como uma voz adulta a retratar com carinho e, porque não, também com arte, as lembranças da adolescência!

[22segundos]

Caro Dionísio:

Obrigado por apreciar o meu poema. Ele pretendia ser exactamente isso uma despretenciosa forma de (re)captar a inocência da infância, na inocência que o amor traz à vida adulta. Acho que num poema deste tipo, a rima, especialmente se pueril, se torna em forma ideal.
Um abraço,

22segundos.

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Cara MariaMadrugada:

Gostei muito do seu comentário. Obrigado por ele.
De facto, assim é, a doçura pressiste, mesmo através do desalento do presente.
A menina que foi vaidosa perdeu a vaidade mas manteve a sua infantil candura, mesmo enquanto mulher.
Um abraço,

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[Marília]

beautiful
ser
ter sido
ter escrito

[22segundos]

Cara Marília:

Mil obrigados por ter lido, por ter visto, por ter comentado!
Um beijinho,

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[anamarques]

Muito bonito e original. A forma em rimas é a escolha perfeita. Já nada acrescento ao que foi dito. Mas não posso deixar de dizer que gostei mesmo muito.

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Cara Ana:

Mil graças e mil parabéns pela (muito merecida) menção.
Aproveito para dizer (pois ando SEMPRREEEEEE a correr e comento menos que devia) que adorei o teu "La donna è mobile..." que por acaso me diz muito...
Abraço,

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[RosaMaria]

Que ternura! gostei sim do teu poema.
jinhos
Rosamaria

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Cara Rosamaria:

Mil obrigados e um abraço,

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