O último

[carlossoares]

Ouço cantares de gente que vai para as colheitas
Sentir-me-ia feliz por ter acordado cedo
Mas há peixes podres a flutuar no rio turvo
E um barco com um crocodilo longirrostro
Que sobreviveu aos tempos mezozóicos
Mas acabou num gancho ferrugento
Em local ignorado

A minha obsessão pelo futuro
Tem-me levado longe
Tem-me levado a um passado remoto
Insensível à minha preferência
Pelo presente próximo

Sinto-me vivo
Mas tenho uma memória extenuante
Que me faz olhar para as coisas
Através de um sistema de cavernas
De um Neandertal que não tivesse morrido

Aponto para as sombras com lanternas
E afasto-me da claridade ofuscante
Com a mão diante dos olhos.

[Sandra Fonseca]

Um poema instigante. O homem diante do futuro, a pulsação do presente e o elo primitivo gravado na memória. Poesia ancestral!

"Sinto-me vivo
Mas tenho uma memória extenuante
Que me faz olhar para as coisas
Através de um sistema de cavernas
De um Neandertal que não tivesse morrido"

Gostei em especial desses versos.
Abraço.

[Goreti Dias]

Passado e futuro unidos pela luz...

[Mel de Carvalho]

o questionamento interior, o que somos e o que intuímos gostar de ser. talvez Domingos da Mota tenha razão quando nos remete para a Alegoria da Caverna de Platão. Na verdade, em todos nós existe a permanente busca e ao mesmo tempo o medo do encontro com a luz.

Grata pela partilha
Mel

[carlossoares]

Dite,
Sandra,
Domingos,
Goreti,
Maria
e
Mel,

Desculpar-me-eis que não me detenha, como bem soía, a responder a cada um, de per si, dos vossos comentários.
Agradeço tão honrosa companhia e prometo que farei por merecer a vossa gentileza.

Abraços.

[Luis F]

Amigo... gostei de ler este poema... que o último. seja o principio de outros mais

Com amizade
Luis

[carlossoares]

Obrigado, Luís.
Um abraço.