Maria Gabriela de Sá
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« em: Abril 18, 2014, 12:12:28 » |
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A viagem ao Douro
A viagem para o Douro gorou, segundo parece. As pequenas, neste tempo de férias, deram em sair das rotinas do sono e agora, em vez de se deitarem com as galinhas para se levantarem aos primeiros raios de sol, deitam-se na última ronda do guarda-nocturno. Foi por isso que hoje, ao perguntar à mãe se os planos do “tour†ainda se mantinham, ela não achou a ideia nada interessante. As meninas têm-se levantado tarde e a más horas, com mau feitio porque, além do mais, têm vindo a ser acordadas com um grito dos mais poderosos da mãe. Nem sequer se mexem quando a irmã mais pequena, a Joaninha, chora. A safadinha não pode ficar cinco segundos sozinha e arma logo um berreiro. Com 10 meses de vida, continua a ter uma paixão assolapada pela mãe que, nestas férias, se tem visto grega com as três, cada uma a querer o exclusivo dela própria. E, depois, levantar cedo já nem para mim é uma boa ideia, agora que me transformei numa noctÃvaga amante das últimas telenovelas da Sic e dos contÃnuos percalços das personagens incumbidas de fazerem render o peixe. Ir para a cama é sempre um projecto adiado até ao último pretexto. É-o para mim e para elas todos os dias, quanto mais em férias de Páscoa.
Depois, as manhãs são um inferno e os comboios para o Douro são escassos.
Também não faz mal. Um dia destes, dando-me na telha, meto pés ao caminho, vou a S. Bento apanhar “o Pocinho†que vai para o Tua às 9h10 e lá vou eu linha acima rever paisagens passadas neste presente que é então o futuro das minhas memórias. Compro um bilhete de ida e volta, pago 22 euros, almoço no Calça Curta e, com sorte, ainda vejo um daqueles barcos da Douro Azul a subirem o rio e a desenharem na água aquele enorme sulco, enquanto eu desenho na mente o desejo de um dia viajar nele. Ainda não pensei bem no assunto porque, infelizmente, enjoo, tenho vertigens, enfim, sou uma rapariga, nem de alturas nem de águas, sou de chãos firmes em dias sem tremores de terra. Mas um dia vou experimentar.
O que mais me custa neste projecto gorado de quinta-feira santa nem é tanto o percurso em si, embora a paisagem daquele diabólico e lindo Douro me faça sempre suspirar de encantamento. O que me dói mesmo é a frustração de não poder ir à Padaria do IlÃdio Monteiro comprar um daqueles folares de carne, ou só doce, com que me lambuzava nas Páscoas da infância e quando a fé e a idade eram outras.
Ah e também me lembro da Senhora Palmira, Deus a tenha, nas alturas em que, depois da invenção dos frigorÃficos e das arcas congeladoras, tinha sempre um miminho desses para me dar. Ganhou o céu por isso, é lá que a imagino enquanto, em dia de finados, lhe vou colocar sempre umas flores na campa.
Mas é tempo de Páscoa e Cristo, no domingo, há-de ressuscitar… Aleluia
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