Sem título( 118 )

[Dionísio Dinis]

Depois das sementeiras

Após deterem o fruto em regaço próprio

Depois do sorriso a esquecer prantos inomináveis

Gritam cobardias na felicidade alcançada


O homem chora o sangue por todos os poros


Fenecem-lhe as rosas nas mãos ávidas de amor

O homem morre às mãos de um quadro de naturezas ímpias

Depois do amor e depois da ignorância do devir em claridade

As farpas cravadas no rosto do homem são como chuva em terra estéril

O jardim do homem amante há-de ser maior que o mundo de terras e mares


O impropério e a distância do sol não calarão a voz do homem dado aos

Mundos do amor universal


Antes da tempestade

Na ausência de credível esperança

Em desespero e morte integral

O homem morre às cálidas mãos da sua alma


Um dia será esquecido eternamente




Dionísio Dinis

[josé antonio]

Boa noite Dionísio,

" Um dia será esquecido eternamente "

é uma imagem metamorfoseada que vale um poema inteiro.

Gostei.

E volte sempre... rsssssss.

Abraço
JA

[Goreti Dias]

Apesar de tudo, felizes dos esquecidos eternamente.Viver na memória dos outros muito tempo causa claustrofobia.
O poema está excelente. Amargas palavras mas, assim mesmo, belíssimas!

[Dionísio Dinis]

Goereti e José António, a ambos, o meu imenso obrigado pelo vosso incentivo.

[Alice Santos]

Depois dos comentários de dois mestres... que mais posso dizer?
Apenas digo que gostei muito.

[carlossoares]

Caro Dinis,

é um excelente exercício para os sentidos e para o intelecto ler este poema, palavra a palavra, verso a verso, estrofe e estrofe e entrar no jogo sem fronteiras da poesia. Sem concessões, abrem-se sentidos múltiplos ligados entre si em relações de não anulação recíproca, que conferem ao todo uma arquitectura aberta mas com coerência.
O último verso, nesta linha de análise, parece todavia quebrar abruptamente aquela harmonia.
Por outro lado, acho "super" interessante o comentário da Goreti sobre o esquecimento e a claustrofobia
Abraços.

[Vanda Paz]

uau....

quem te viu e quem te vê... SOBERBO...

beijo

[Goreti Dias]

Carlos, só quem é claustrofóbica sabe do que fala... eu sou. Mas o poema vai por mais do que isso. É, de facto um excelente exercício de leitura(s)

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Parabéns, Dionísio! Gostei imenso do teu texto.
Peço-te um favor, posto que está on-line. Não sei como publicar no ESCRITARTES. Por isso vou enviar um texto como se fosse parte de um comentário. Eis o texto aí embaixo.
Desde já, obrigado e um abraço.

Oswaldo Eurico Rodrigues

Branca, ágil e bela.
   À noite chega sorrateiramente e se esgueira por entre as gentes. Seu andar suave como veludo não nos deixa perceber sua aproximação. Um leve toque indica a presença elegante. Braços estendidos ou colo oferecido. O aconchego e o carinho são certos. O toque é macio e delicado. Deita-se seguramente. O sono é rápido e tranqüilo. Contemplamos... Haverá sonho? Há ternura. Há carinho. Algo interrompe o silêncio que se fez. O despertar do olhar alerta é rápido. A posição de defesa também. Suor frio. Apreensão. Separação. Ouve-se um barulho miúdo por perto. O susto e a resposta imediata vêm depois de um mergulho ágil e de uma corrida. Segue-se uma perseguição. O poder de dominar a vítima é impressionante. Sarcasmo. Tortura. Tentativa de fuga. Novo impedimento. Dominação. Ataque final. O perdedor descansa para sempre.
   O alvoroço acordou toda a casa. O que houve? A situação está sob controle. Por mais abjeta que seja, a cena fez-se necessária. Balanço final: um jarro quebrado, as flores espalhadas pelo chão molhado, algumas gotas de sangue infecto, uma boca suja e um andar matreiro e satisfeito de quem cumpriu uma grande tarefa ou de quem se manteve obediente à sua natureza. Limpeza da sala. Lamentação pelo jarro quebrado e recompensa à heroína: um belo jantar de salmão fresco e delicioso.
   Observo a degustação satisfeito. O prato está vazio. Minha perna recebe um roçar. Ouço um ronronar. Ela pula no meu colo. Vamos os dois à biblioteca. Gostamos muito de lá. Ela deita gostosa sobre a mesa. Eu olho para ela. Faço um carinho nas suas costas e ela se derrete toda. Nos olhamos intensamente por longo tempo. Mais carinhos. Ela dorme e eu satisfeito a olho tão feliz. Vou para o computador a fim de escrever esta crônica do escritor e de sua gata branca que livrou sua casa de um camundongo imundo.

[vilde]

"O jardim do homem amante há-de ser maior que o mundo de terras e mares"

Cada verso deste poema é verdadeira poesia, que nos transporta para fora do real e transmite mensagens que atingimos pelo subentendimento...como aliás é próprio de um mestre como o Dinis.
Parabéns!
Bj
Vilde

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Dionísio, já descobri como se faz para publicar. Estava à minha vista e não percebia. É o calor.
Desculpe-me o transtorno.

Felicidades.

[Dionísio Dinis]

Alice, Carlos, Vanda, Goreti, Oswaldo e vilde, a todos o meu imenso obrigado pela gentileza da visita, e generosidade dos comentários.

Abraços fraternos

[pedrojorge]

Gostei de O homem chora o sangue por todos os poros... grande verso.

[Dionísio Dinis]

Grato pela leitura e pela descoberta de um verso que poderia ser anónimo momento de escrita e de sentimento pueril.
Abraço mui fraterno, amigo Pedro.

[Karla Bardanza]

nada mais para dizer além de perfeito.