Delim, delão (reflexões em ão)

[Nação Valente]

Delim  delim

delim delão

toca o sino

pra procissão

corre o emigra

no seu carrão

estala o foguete

no pino do verão


O rosmaninho

rasteja no chão

milhares de rodas

comem alcatrão

baratas tontas

em diversão

felicidade

em poluição.
 

À romaria

chega o ladrão

com  muitos sorrisos

semeia ilusão

parte confortado

por grande ovação

o sino repica

pra corrupção.
 

Roubam a seara

pra tirar-lhe o pão

espremem o suor

como a um limão

esquece-se a injustiça

e a aflição

pára a caravana

e passa o cão.
 

Morra o otário

viva o ladrão

mais o vigário

e o patrão

da nação

delim delão

toca o sino

para a extorsão.
 

Prenhes as praias

de multidão

tostam  os corpos

rolando no chão

cantam hossanas

ao bendito verão

nas águas mergulha

uma ficção.
 

Soam as trombetas

e nasce a canção

jovens imberbes

dormindo no chão

juntam os corpos

em comunhão

incham os ventres

porque é o verão.
 

Velho reformado

conta a pensão

leva o andor

vai na procissão

pede a Deus

só mais um tostão

que estes daqui

Já não lh`o dão.
 

O poeta triste

faz uma canção

poema sem rima

exprime a emoção

ninguém o entende

que desilusão

entre ladainhas

passa a frustração.
 

Faz-se sementeira

de mais ilusão

a chuva do medo

raio! apaga o verão

já não toca o sino

para a procissão

Delim delim

Delim delão

 

MG

[Goreti Dias]

Interessante esta sua forma de utilizar textos conhecidos! Veramente criativo!
Se terminar o verão, acabara a extorsão?

[Nação Valente]

Goreti
Pesquisei. Penso que faz alusão ao poema procissão de António Lopes Ribeiro. Mas "veramente" desta vez não foi o ponto de partida para este texto. Aliás quando isso acontece faço questão de referenciar o autor. O seu a seu dono. Tenho verificado que o processo criativo surge muitas vezes de forma inesperada e expontânea. No caso específico surgiu a partir de uma frase ( delim delão estamos no verão e continua a aflição)  que sem saber porquê me nasceu na mente um dia ao acordar. O resto é elaboração racional pautada pelo ritmo delim, delão. Admito que às reminiscências da memória tenha ido buscar ( sem intencionalidade) expressões do texto tão bem declamado por João Vilarett. Agradeço o comentário e peço desculpa por este longo arrrazoado, mas achei pertinente fazê-lo porque teve o condão de me fazer  reflectir sobre as origens do processo criativo que delim delão nem sempre está na nossa mão.
Abraço

[Goreti Dias]

O processo criativo é resultado de tudo  o que interiorizamos. Nem sempre nos damos conta (até porque impossível) das raízes do nosso conhecimento. Usámo-lo e pronto. Não inventamos nada, está tudo inventado. A começar pelas próprias palavras! De qualquer forma, o ritmo, algumas frases, remeteram-me para o poema referido. Muito interessante. Parabéns!

[Nação Valente]

Acabou o verão e continua a extorsão. Delim, delão!

[Goreti Dias]

Ui! De Inverno ainda custa mais!

[Nação Valente]

Acaba o inverno
vem outro verão.
Será que desta
acaba a extorsão?

[Dionísio Dinis]

Lembra sim a toada declamatória do Vilarett.E é criação de aplaudir.

[Maria del Mar]

Não acaba não!!!! Esperemos para ver

[Dionísio Dinis]

Relendo com muita atenção da primavera até ao verão.

[gdec2001]

Uma lenga-lenga com muita verdade.
Cuide-se amigo
geraldes