Guacira
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« em: Fevereiro 08, 2009, 17:51:43 » |
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Mas sua humanidade deveria estar gritando o quanto era bom estar tão próximo e constatar a admiração de uma mulher jovem e bela como aquela. Ela, por seu turno, deveria encontrar-se em permanente estado de êxtase ao perceber que um homem tão famoso por sua sabedoria e conhecimentos, com quem teria ido aprender, estivesse lhe dedicando tanta atenção... Quero crer que, na dimensão desse ser individual, muitas vezes entregue ao próprio desamparo e sensibilidade enquanto homem, seria muito difÃcil identificar algum perigo ou possibilidade de sofrimento em algo tão bom, num sentimento tão gostoso de ser sentido e, ao mesmo tempo, tão sem sentido, sem nexo. Quem poderá dizer que Salomão, sendo um instrumento de Deus, jamais poderia se ter deixado levar por um sentimento tão pouco espiritual, ou tão carnal? Qual ser humano, de forma ampla, poderá dizer que jamais seria surpreendido por um sentimento tão incontrolável, porque indetectável aos tentáculos da razão, como o amor? Talvez, jamais tenha de vocês essas respostas porém, eu, pessoalmente, tenho cá a minha tese (e se não perceberam, venho sendo tendenciosa desde o começo). Classificaria este, o que é minha proposta em ralação aos outros sentimentos que permeiam o amor, como sendo um amor especificamente de renúncia, principalmente por parte da nossa soberana. A mais dolorosa de todas elas. Renunciar a um amor é profundamente doÃdo e cruel. Entretanto, nós, mulheres, sabemos fazer isso, mesmo que o coração possa estar dilacerado... Porém, reflitamos, para que isso serviu, terá valido a pena? Não haveria uma possibilidade de ser diferente? Qual o saldo positivo desse ato? Salomão, principalmente, se destruiu com ele. Seria ainda possÃvel a seu povo, olhá-lo como exemplo, no estado de degradação em que se recolheu ao mundo dos vÃcios, da licenciosidade, da adoração de deuses pagãos? Perceberam a consistente trama, a fortÃssima urdidura sobre a qual essa história repousa, seja ela verdadeira ou não? É possÃvel, com a maior clareza, detectar-se a grande variedade de fios usados na sua composição; fios que se entrelaçam, não importando a origem ou época. Ainda que sua origem não seja nosso objeto de análise - ambos se confundem – e percebendo-se que a própria dúvida faz parte da sua urdidura. De qualquer forma, seja qual for o ângulo analisado, chegarÃamos a uma trama ainda mais intrincada e mais rica, com vários ângulos a serem observados, tornando-se, para usar uma linguagem e uma visão de mundo bastante atual, um verdadeiro hipertexto, o que nos leva a constatar uma realidade irreversÃvel, que é a impossibilidade de tratar-se qualquer conhecimento isolado-o do contexto geral dessa verdadeira trama que é a vida...
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